O fanatismo de Erney Plessmann de Camargo pelo São Paulo Futebol Clube tinha motivo: na década de 1940, acompanhava o tio, Pedro Penteado, o Doutor, goleiro do time, nos treinos no Canindé (zona norte de São Paulo).
Ali começava a formação de um crítico de futebol que nos tempos atuais divertia a família com seus comentários e reclamações dos jogadores.
O humor com pitadas de ironia era outra marca de Erney. "Meu pai era divertido, informal. Até nas coisas mais sérias encontrava alguma coisa hilária para contar", relata o médico Luís Fernando Aranha Camargo, 60, um dos filhos.
Filho único de um bancário e de uma professora, Erney nasceu em Campinas (a 93 km de São Paulo), mas logo se mudou para São Paulo com a família. Foi para a região da alameda Barão de Limeira, em Campos Elíseos (centro), e estudou no Liceu Coração de Jesus, na mesma região.
Médico formado pela Faculdade de Medicina da USP (1959), era considerado um dos principais pesquisadores em malária e doenças negligenciadas do mundo.
Em 1962, ingressou como auxiliar de ensino no Departamento de Parasitologia da USP. Começou a estudar a bioquímica do Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas.
Foi cassado duas vezes. A primeira, em meados de 1964, pelo AI-1; a segunda, anos depois, pelo AI-5. Na época, passou uma temporada em Madison, nos Estados Unidos, a convite do pesquisador americano, Walter Plaut. Lá, envolveu-se no estudo de um fungo aquático, que virou tema da sua tese de doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior paulista.
Erney criou o curso de pós-graduação em microbiologia, parasitologia e imunologia na Escola Paulista de Medicina —atual Unifesp. Ficou 15 anos na instituição. No período, fez livre-docência no Departamento de Bioquímica da USP (1979) e o pós-doutorado no Instituto Pasteur (1984).
Também na década de 1980, realizou pós-doutorado na França, sobre biologia molecular. O foco do pesquisador era a malária.
De volta à USP, ampliou o Departamento de Parasitologia e foi pró-reitor de pesquisa entre 1988 e 1993.
No Butantan, Erney foi estagiário em 1959. Décadas mais tarde, de 2002 a 2003, dirigiu o instituto. Erney também presidiu a Fundação Butantan e integrou o conselho curador.
O pesquisador presidiu o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), de 2003 a 2007, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e a Fundação Zerbini-Incor.
Erney integrou, ainda, os conselhos superiores da Fiocruz, da Capes e da Fundação Antonio Prudente.
Professor Emérito da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ultimamente Erney era presidente da Fundação Conrado Wessel, que apoia atividades culturais, artísticas e científicas no Brasil.
Erney Felicio Plessmann de Camargo morreu no dia 3 de março, aos 87 anos, em decorrência de complicações causadas por uma cirurgia na coluna. Deixou a esposa, quatro filhos e netos.
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