Justiça aceita denúncia contra tenente da PM que matou Leandro Lo

Defesa de Henrique Velozo diz que conclusão do inquérito se deu de forma açodada

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São Paulo

A Justiça aceitou denúncia do Ministério Público e tornou réu o tenente da PM (Polícia Militar) Henrique Otavio Oliveira Velozo, 30, pela morte do lutador de jiu-jítsu Leandro Lo Pereira do Nascimento, 33, conhecido como Leandro Lo.

O lutador morreu na madrugada do dia 7 de agosto, após ser baleado na testa durante um show do grupo Pixote no Esporte Clube Sírio, na avenida Indianópolis, Planalto Paulista, zona sul de São Paulo.

O promotor Romeu Galiano Zanelli Júnior denunciou o policial, que estava de folga no momento do disparo, por homicídio triplamente qualificado. Ele usa como agravante uma possível dissimulação do acusado, que, após ser imobilizado, teria simulado deixar o local, momento que Leandro Lo teria reduzido a sua vigilância.

O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Pereira do Nascimento Lo, de 33 anos
O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Pereira do Nascimento Lo, de 33 anos, foi baleado numa festa dentro do Clube Sírio, no bairro Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo, na madrugada deste domingo (7) - @leandrolojj no Instagram

O juiz Claudio Juliano Filho explicou ter aceitado a denúncia pela presença de autoria e materialidade, ou seja, por ter prova suficiente do autor e do fato. Ele converteu a prisão temporária de Velozo em preventiva, o que significa que o PM pode ficar preso até seu julgamento.

O advogado Claudio Dalledone, responsável pela defesa do tenente, criticou nesta segunda-feira (5) a denúncia apresentada pelo Ministério Público.

"A denúncia é uma hipótese acusatória que destoa completamente do que foi produzido no inquérito policial e o que será desvelado na investigação judicial. As qualificadoras são descabidas e tudo isso ficará firmemente provado no momento em que o processo for devidamente instaurado."

Para ele, a conclusão do inquérito policial se deu de forma "açodada", já que não se esperou a produção do laudo da reconstituição do crime.

Ele afirma que, durante a simulação, que ocorreu na última quarta (31), foram apresentadas inúmeras contradições na comparação com os depoimentos das testemunhas.

A simulação contou com amigos de Leandro Lo que estavam com ele no local no dia em que foi morto, além de funcionários e testemunhas.

No momento do disparo, por volta das 2h daquele domingo, cerca de 1.600 pessoas acompanhavam o show.

Velozo continua detido no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte. Ele ainda não apresentou de maneira formal sua versão sobre o ocorrido.

A defesa do PM afirma que ele atirou contra o lutador para se defender. "A ação dele é uma ação legítima. Ele foi ali cercado por seis lutadores de jiu-jítsu", disse Claudio Dalledone à Folha em 14 de agosto.

O CRIME

Segundo a versão apresentada por testemunhas, a confusão teve início após Velozo entrar na roda de amigos de Lo, pegar uma garrafa de bebida e começar a chacoalhá-la. De acordo com os relatos, o policial tentava provocar o atleta.

Lo teria, em seguida, derrubado o tenente e o imobilizado. Outras pessoas se aproximaram e separaram a briga, sem ter havido agressões, ainda segundo relatos.

Velozo teria, então, sacado a arma que levava na cintura e atirado uma única vez na cabeça do lutador. A vítima chegou a receber os primeiros socorros de um médico no local e foi levada ao hospital, mas não resistiu.

A Folha mostrou que o tenente já havia se envolvido em outras brigas antes da morte do lutador.

Ele já havia sido investigado pela Corregedoria e condenado pelo Tribunal de Justiça Militar por ter desacatado um tenente e agredido um soldado. O caso ocorreu em 2017 em frente a uma casa noturna na Lapa, zona oeste.

Em 2020, Velozo foi acusado de dar um soco em uma mulher dentro de uma lancha. A vítima chegou a prestar queixa por lesão corporal contra o tenente, enquanto ele abriu uma ocorrência de calúnia contra sua denunciante. No entanto, de acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), ambos não deram andamento às queixas.

Em maio deste ano, Velozo foi o responsável por vetar que um soldado tivesse sua arma da corporação devolvida. O soldado de 22 anos responde a um PAE (processo administrativo exoneratório) devido a um problema pessoal, após divórcio traumático. O tenente sugeriu que o PM comprasse uma arma particular para se defender, já que o homem desarmado diz ser alvo de ameaças do PCC (Primeiro Comando da Capital).

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