Quase dois meses após a operação ação que desmantelou a cracolândia da praça Princesa Isabel e dispersou os usuários de drogas pelo centro de São Paulo, a Polícia Civil deve mudar o enfoque de suas ações na região.
Até então voltada apenas a sufocar o tráfico na cracolândia, a operação Caronte —que começou em abril de 2021— irá atuar agora também para dar apoio às ações de assistência social e de saúde do município. A nova etapa, a sexta, começará em breve.
"As prisões vão continuar porque tráfico de drogas é igual mato, tem que cortar senão volta a crescer", diz o delegado Roberto Monteiro da 1ª Delegacia Seccional do Centro.
Segundo o delegado, o momento exige maior presença das equipes de saúde e de assistência social diante da menor circulação de drogas em decorrência das reiteradas incursões em meio ao fluxo, como é chamada a concentração de usuários. "O fluxo está dinâmico agora porque estão sem orientação dos traficantes", disse o delegado ao explicar as ocupações de pontos no centro da cidade.
A meta da polícia e da prefeitura é impedir o fechamento de ruas pelos usuários, como ocorreu nesta terça-feira (5) na rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia. O trânsito de carros e de pedestres foi impedido pela aglomeração de pessoas.
"Ontem [terça] chegaram a fechar uma rua e hoje não teve isso", diz o secretário-executivo de Projetos Especiais, Alexis Vargas, que coordena o programa anticrack da prefeitura, o Redenção. "Eles estão mais agitados por causa da abstinência, da falta da droga", continua.
A falta de drogas é a explicação do secretário e também do delegado Monteiro para a confusão registrada por câmeras de celular na Santa Ifigênia na manhã desta quarta-feira (6), quando usuários saquearam comércios e entraram em confronto com trabalhadores da região.
Houve confusão e comerciantes usaram paus e pedras para dispersar os dependentes químicos, que reagiram e atiraram objetos.
Para o secretário, apesar da maior sensação de insegurança para quem mora e trabalha no centro, a dispersão é benéfica porque representa o fim da atuação territorializada do tráfico de drogas na cracolândia. "Não houve aumento de ocorrências policiais na região entre janeiro e junho", diz.
Apesar da previsão da Polícia Civil por maior necessidade de atendimento aos usuários, a estrutura será mantida sem alterações, segundo o secretário, que citou como um dos principais equipamentos a tenda emergencial montada na rua Helvetia para receber usuários em busca de tratamento.
A rua dos Gusmões, onde houve a confusão, é um dos pontos ocupados pelos usuários desde a retomada da praça Princesa Isabe. Os outros são o estacionamento de uma agência bancária na avenida Duque de Caxias, o quarteirão da rua Helvetia na esquina com a avenida São João, e a rua Guaianases.
Em todos esses locais, moradores e trabalhadores relatam aumento nos casos de furtos e roubos, além de sujeira e barulho constantes.
No trecho da avenida São João próximo à rua Helvetia, onde parte do fluxo de usuários se consolidou, muitos comerciantes decidiram deixar os pontos por causa da insegurança. O mesmo aconteceu no entorno da praça Princesa Isabel.
Entre dezenas de prisões em flagrante de tráfico de drogas, a operação Caronte chegou a dois acusados de integrar a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e responsáveis pelo comércio de entorpecentes na cracolândia.
Preso na última quarta-feira (29), Adilson Gomes da Silva, 42, o Deco, foi quem definiu o esquema de alugar espaços para os interessados montarem barracas e venderem as drogas, segundo a Polícia Civil.
Na semana anterior, foi anunciada a prisão de Anderson Mendes Machado, o Sistemático, responsável por fiscalizar as regras impostas pelo PCC na região central, segundo a Polícia Civil. O homem foi encontrado em um dos quartos de hotel localizado na avenida Rio Branco.
Ação da prefeitura nesta quarta-feira fechou sete estabelecimentos, entre bares e hotéis, no entorno do novo hospital Pérola Byington.
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