Administrador da área de tecnologia, Luiz Henrique Nunes, 27, esperava reduzir em uma hora o tempo de trajeto com a inauguração da estação Vila Natal, da linha 9-esmeralda, hoje administrada pela ViaMobilidade. Morador da região, na zona sul de São Paulo, ele gasta atualmente duas horas para chegar ao trabalho no Alto de Pinheiros, na região oeste.
A expectativa, contudo, não se confirmou após quase um ano da inauguração da nova parada.
"Imaginei que a estação ia funcionar até dezembro [de 2021], pelo menos", diz. "É frustrante, e ainda mais por não ter uma explicação clara para a demora."
Com essa situação, ele sai de casa por volta das 7h, pega um ônibus até o Terminal Grajaú, faz baldeação para o trem e desce na estação Cidade Universitária, onde ainda pega um segundo ônibus. Na volta, faz o mesmo caminho no sentido inverso. E, por enquanto, essa rotina não tem data para terminar.
Desde que foi aberta ao público, em 11 de agosto de 2021, a estação Bruno Covas/Mendes-Vila Natal continua circulando na chamada operação assistida, em fase de testes, apenas entre as 10h e as 15h.
Oito meses após a inauguração, em abril deste ano, a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos anunciou que até a segunda quinzena de maio a estação funcionaria integralmente, das 4h até a meia-noite. No entanto, essa previsão tem sido adiada consecutivas vezes. Mais recentemente, houve novo anúncio para 22 de junho, que também não foi cumprido.
A estação continua operando em horário reduzido, sem nova data para ampliação. Sem poder utilizá-la nos períodos mais críticos do dia, a população mantém a rotina para ir e voltar dos bairros próximos até as regiões mais centrais da cidade.
Os moradores reclamam da demora para entrega efetiva da estação, que poderá reduzir significativamente seu tempo de deslocamento e gasto com conduções no transporte. A nova estação é aguardada com grande expectativa há quase uma década, quando as obras tiveram início.
A produtora audiovisual Solange Santana, 34, mora na Vila Natal. Para trabalhar, pega uma das linhas de ônibus do bairro para o Terminal Grajaú. De lá, ela vai de trem até Santo Amaro.
Caso a estação Vila Natal estivesse em operação total, Solange conseguiria ir até ela a pé e fazer o mesmo trajeto economizando duas conduções, contando ida e volta. Além disso, estima que poderia reduzir o tempo de deslocamento pela metade: hoje, leva uma hora de casa até o trabalho.
Para a produtora, a ampliação do funcionamento ajudaria a reduzir a lotação dos ônibus e do Terminal Grajaú, um dos principais pontos de parada para quem vai dos bairros da zona sul para outras regiões da cidade.
"Já são quase dez anos de obra. A gente sabe que tem toda uma questão de infraestrutura, que demora mesmo, mas dez anos é muita coisa", reclama.
Comerciantes
Outro grupo prejudicado é o dos pequenos comerciantes da região. Alguns deles fizeram investimentos contando com o funcionamento integral da estação, que deve aumentar a circulação de pessoas na região. Com a demora, eles também sentem no bolso.
Dayane Alves, 28, abriu no fim de junho uma lanchonete a poucos passos da entrada da estação. O local estava pronto havia meses, mas ela segurou a inauguração enquanto pôde para evitar prejuízos. Por fim, decidiu abrir mesmo com previsão de movimento baixo.
"A gente sabia que abrindo com a estação parada não teríamos o movimento esperado. Então, todas as vezes em que foi [a abertura] adiada ficamos muito bravos", diz.
Ela acrescenta também que, enquanto não ocorre a abertura completa da estação, não conseguiu definir um horário certo para funcionamento do comércio, o que prejudica inclusive seus funcionários.
"Tivemos atraso de contas, pagamos juros, precisamos tirar de um lugar para cobrir o outro. De modo geral, a verdade é que só houve investimento, sem retorno nenhum", comenta.
Carlos Eduardo Vieira, 48, tem um restaurante e uma pizzaria na rua da estação. Há 12 anos trabalhando no local, ele sente que o movimento cresceu nos últimos anos e isso impactou positivamente os negócios, mas aguarda uma mudança maior com a estação operando normalmente.
Ele chegou a mudar a estrutura para se preparar para o crescimento da demanda. "Comprei máquinas de sorvete, de churros e de churrasco. Contratei mais três pessoas para o restaurante esperando esse movimento", diz ele. No entanto, com a demora, teve de dispensar uma funcionária para manter as contas em dia.
"Nós precisamos treinar as pessoas, então precisamos de um tempo de planejamento. Infelizmente, as datas [de funcionamento completo da estação] são sempre mudadas."
Sem previsão
A reportagem questionou a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos e a ViaMobilidade, que assumiu a operação da linha 9-esmeralda em janeiro deste ano, sobre a demora para início da operação integral da estação Bruno Covas/Mendes-Vila Natal.
A secretaria respondeu que a estação continua passando por testes, sem previsão de término. A reportagem pediu mais detalhes para a pasta sobre o motivo do atraso para conclusão dos testes, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
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