Mortes: Avó amorosa, registrou toda história da família

Católica, deu aulas de catecismo para mais de uma centena de crianças no próprio quintal

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Ricardo Ampudia Talachia
São Paulo

​No Natal da família Talachia todos se reuniam em torno de uma enorme mesa forrada com uma quantidade exagerada de comida, em meio a uma gritaria e gesticulação típica dos italianos que se refugiaram no interior de São Paulo. Exceto Luzia.

Matriarca de uma família numerosa, era ela quem rondava a mesa garantindo a reposição dos pratos e pousando vez ou outra sobre os ombros dos netos para perguntar: "Já comeu? Come mais".

​Nascida em 1937, na Água dos Aranhas, povoado rural de Palmital (SP), teve uma infância difícil com a família na roça. Era a sétima de 10 filhos. Da adolescência, lembrava das reuniões em família, da vida no campo e a descoberta do seu grande amor.

Imagem em primeiro plano mostra casal de idoso posandp para foto sentados em um banco
Luzia Pereira Talachia (1937-2022) e o companheiro Paulo - Arquivo Pessoal/25.dez.2010

Foi em 1956 que se casou com Paulo Talachia. "Amor à primeira vista", escreveu em um álbum de memórias. Dessa época, Paulo guarda uma folha do calendário de 1953: "primeiro beijo na Luzia". 4 de outubro.

Dois anos mais tarde, em 1958, mudam-se para Paraguaçu Paulista (SP) já com o primeiro filho, Paulo Sérgio. Tiveram mais cinco: Gilberto, Tarcísio, Leila, Cláudio e Yeda.

Católica, deu aulas de catecismo para mais de uma centena de crianças no próprio quintal, na Vila Prianti, na periferia da cidade.

Não faltava a uma missa e, quando a idade pesou, substituiu os bancos da igreja por maratonas de missas televisionadas, para desespero do marido, que passou a intercalar jogos do Corinthians com a programação da Rede Vida.

Foi em casa também que, na década de 1990, deu aulas noturnas de corte e costura para as mulheres do bairro. Também nessa época garantiu o abastecimento do guarda-roupa de todos os netos. Era conhecida por ser uma avó muito amorosa e estar sempre rindo.

Com uma memória invejável, era guardiã da história oral da família. Encheu uma dezena de álbuns com fotografias e textos com a história dos Pereiras, seu sobrenome de solteira, e Talachias. Começando pelo seu bisavô, em 1860, até o nascimento de seu primeiro bisneto.

Nas tardes com os netos, fazia questão de relê-los, contar as histórias e fazer com que eles se prometessem contar para seus filhos.

Aos poucos, foi deixando de rodear todos para ser rodeada. Conforme sua saúde ia piorando, foram idas e vindas de hospitais, cirurgias, cadeiras de rodas e leitos de cama.

Morreu no último 27 de janeiro, aos 85 anos, de causas naturais. Deixa o marido Paulo, seis filhos, 14 netos e cinco bisnetos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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