Mais uma ação das forças de segurança pública na cracolândia, no centro de São Paulo, terminou em confusão, com tiros, bombas, correria, reforço policial e helicópteros, no fim da tarde desta quinta-feira (3), no feriado de Corpus Christi. Desta vez, a operação resultou em uma viatura alvejada, no fechamento de um terminal de ônibus e no desvio de 28 linhas do transporte coletivo.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), houve um "tumulto na região da Nova Luz durante diligências realizadas pela Polícia Civil".
A Secretaria de Segurança Pública do estado, sob gestão de João Doria (PSDB), e à qual a Polícia Civil é subordinada, informou em nota que, ao realizar digilências de um caso na Nova Luz, policiais civis do 77º DP (Santa Cecília) foram hostilizados por dependentes químicos, que passaram a "arremessar pedras e objetos diversos contra a equipe policial, sendo necessário apoio da GCM e PM para controlar a situação".
A GCM (Guarda Civil Metropolitana) "colaborou para contenção do tumulto, utilizando elastômero [balas de borracha], conforme os protocolos de atuação e uso progressivo da força", de acordo com a pasta municipal.
Uma viatura da Inspetoria de Operações Especiais, presente no local, foi alvejada, mas não houve nenhum ferido, ainda segundo nota da prefeitura.
A SPTrans começou por volta das 17h40 a desviar 28 linhas de ônibus que trafegam pela avenida Rio Branco, no trecho entre a avenida Duque de Caxias e a alameda Glete. A pedido da Polícia Militar, o Terminal Princesa Isabel também foi fechado para entrada e saída dos coletivos.
O serviço foi normalizado cerca de duas horas depois, por volta das 20h, e o terminal foi reaberto.
Na última segunda-feira (31), a Promotoria dos Direitos Humanos abriu uma ação civil pública para tentar impedir a atuação da GCM como força policial na cracolândia, onde se concentram usuários de drogas, principalmente crack.
Segundo o MP-SP (Ministério Público de Sâo Paulo), a guarda, ligada à prefeitura, tem histórico de "atuações excessivas" na região. Usando como pretexto o combate aos traficantes de drogas, eles têm atacado os usuários, diz o documento.
Entre os excessos estão o "desvio de função e abuso de poder", verificados desde 2017 por integrantes do Ministério Público paulista. O órgão afirma que já ouviu integrantes e dirigentes da GCM e fez várias tentativas de soluções extrajudiciais, com reuniões para tentar modificação a atuação da corporação, sem sucesso.
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana afirmou, em nota enviada ao Agora, não ter sido oficialmente noticiada sobre a ação civil pública, mas que estava à disposição para prestar esclarecimentos após ciência dos termos.
A denúncia da Promotoria também tem como base um dossiê produzido pelo Craco Resiste, um movimento contra a violência na cracolândia. São imagens de câmeras de monitoramento, nas quais guardas aparecem agindo com truculência, sem justificativa. Os GCMs arremessam bombas e disparam, com balas de borracha, contra os usuários de drogas.
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