No final de 2011, Maria das Graças Tinoco Néia levou a filha Vanessa ao terraço do edifício onde moravam, no bairro paulistano de Perdizes, e olhando para o horizonte disse: “você é o milagre da minha vida”.
Vanessa havia perdido o cabelo, estava abatida, mas, aos 26 anos e após 36 sessões de quimioterapia, vencia um linfoma de Hodgkin.
Se a cura da filha era considerada por ela milagre, não foi o único nos 68 anos da mulher que nasceu no Ceará, cresceu em São Paulo e fez vida no Amazonas.
Filha caçula de uma família de 30 irmãos, todos de nome Maria ou Francisco, Graça chegou à capital paulista aos doze anos vinda de Fortaleza em um pau-de-arara. O pai, Edson, havia perdido o emprego e se aventurou no Sudeste junto com a mulher, Stella, e a filharada.
Graça precisou ajudar a pagar as contas. Ia à feira vender galinha, comercializava Yakult na rua, batia de porta em porta oferecendo um catálogo com ofertas que iam de panela a roupa íntima. Até que, na década de 1970, assinou carteira como secretária numa indústria têxtil.
Conheceu lá o grande amor de sua vida, Sérgio Néia. Casaram-se em 1973, mesmo ano em que nasceu Raquel. Pouco depois, Sérgio foi transferido para Manaus. Lá nasceram Rodrigo e Vanessa.
O emprego de Sérgio garantia situação confortável, mas Maria das Graças rejeitou o papel de dona de casa. Montou comércio de roupa, uma confecção e uma loja de trajes para noivos que existe até hoje.
No ano passado, perdeu Sérgio para a Covid-19. Entristeceu-se. Rodrigo assumiu a loja. Para seguir em frente, Graça encontrou forças nos netos Vinícius, Malu e Estella.
Há 12 dias, foi hospitalizada com falta de ar e dor na coluna. A causa era câncer de mama em estágio avançado. A vida de dona Graça chegou ao fim em 20 de maio.
A família diz que não aguentou viver longe do marido por muito tempo. A volta para os braços de Sérgio teria sido o último milagre em sua vida.
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