Nem as tristes lembranças da guerra vivas na memória de Felix Brull, alemão nascido em Hamburgo, apagaram seu sorriso.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o medo de perseguição o fez fugir para Bruxelas, na Bélgica, onde ficou escondido na casa de um amigo.
Depois, veio com a mãe para o Brasil. Um primo que morava em São Paulo custeou as passagens de navio. Desembarcaram no Rio de Janeiro e imediatamente viajaram à capital paulista.
A primeira porta para o mercado de trabalho quem abriu foi o primo, na própria empresa. Passado algum tempo, Felix conseguiu emprego em uma indústria de algodão e entrou para a área comercial, no ramo de embalagens.
Em 1982, conheceu o grande amor de sua vida, Dagmar Boer. Ela ficou ao seu lado até o último momento.
Pai coruja, gostava demais dos filhos. "Ele era um paizão, mas você pode trocar o z pelo x porque também era pura paixão", diz o filho, o administrador Michel Fábio Brull, 63.
Descontraído, poético e sensível ao mesmo tempo, Felix se encantava pelo pôr do sol, pela emoção da música clássica e das artes e pelos concertos que assistia na Sala São Paulo.
Para os amigos do Clube Paulistano, servia de inspiração e fonte de vivacidade. Até 2019, praticava musculação diariamente. Com o lado artístico aflorado, Felix também cantava no coral. Entre os netos, era chamado carinhosamente de lenda.
"Meu pai se encantou pelo Brasil e espalhou amor entre as pessoas sem esperar nada em troca. Foi o seu legado", diz o filho Michel.
Suas aventuras deram vida ao livro "De bem com a vida", lançado há cerca de oito anos.
Felix Brull morreu dia 2 de junho, aos 95 anos, por complicações da idade. Deixa esposa, dois filhos e cinco netos.
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