A praça Chão de Giz não existe no mapa da cidade de São Paulo. Para o poder público é apenas uma área verde localizada na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias (Campos Elíseos). Mas para os moradores do entorno, é um espaço de paz e beleza.
Alexandre Pinto Martinez, 44, foi o pai carinhoso que adotou o lugar e o batizou como Chão de Giz.
"Ele gostava de pintar o chão. Dizia que era como um quadro negro, que poderia pintar e apagar quantas vezes quisesse", conta uma amiga, a educadora Rossana Florio Angelone, 46.
Alexandre nasceu em Limeira (a 151 km de SP). Quando criança, presenciava a avó conversando com as plantas e também estabeleceu seu diálogo com elas, à base de amor.
Um dia, ele resolveu ser livre e saiu pelo país com uma mochila nas costas. Conheceu vários locais até chegar a São Paulo.
Instalou-se na praça Chão de Giz em meados de 2017. Mesmo em situação de rua, nunca aceitou dinheiro sem oferecer um trabalho em troca. Viveu de bicos.
Em pouco tempo, revitalizou a praça, que já foi conhecida como banheiro da cracolândia. Fez a limpeza e um canteiro para as suas "meninas". Era assim que se referia às plantas.
Alexandre levou a beleza do seu coração ao local. Ele recolhia plantas jogadas em caçambas ou no lixo e praticamente as ressuscitava.
A praça Chão de Giz ganhou vida e ele, amigos. Alexandre dizia que morava num lugar privilegiado e fazia questão de que as pessoas fossem ao local e se sentissem em casa.
"Ele era querido por todos. Adorava crianças e idosos, e oferecia a sua paciência quando alguém queria conversar. Alexandre tinha o dom de amar todas as formas de vida."
Antenado e inteligente, falava sobre qualquer assunto e dedicava parte do seu tempo à leitura.
"Costumava brincar que Alexandre era o menino do dedo verde. Ele transformava pelo toque", diz Rossana. O apelido é uma referência ao livro de Maurice Druon, que conta a história de um menino cujas impressões digitais suscitavam a alegria.
Discreto sobre a vida particular, não costumava falar sobre a família. Sabe-se que passou por vários relacionamentos e teve uma filha.
A rua e o vício em drogas debilitaram seu corpo. No dia 8 de maio, quem ressuscitou plantas, deu vida à praça Chão de Giz e cultivou a alegria precisou descansar.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.