No Natal de 1968, Wilson Costa pela primeira vez fez dinheiro, depois da infância pobre como engraxate e vendedor de pão em carroça. Jogou as notas todas no chão, depois para cima, e exclamava: "olha quanto dinheiro!".
Naquele ano, havia comprado uma loja de vestuário masculino em Bauru, que deu o nome de Wilson Roupas. Mas não gostava do estilo das peças e, no Natal, vendeu o estoque, para começar do zero. Foi assim que juntou todas aquelas notas que, segundo a esposa, rapidamente recolheu e guardou, logo após a euforia inicial.
A loja era um desejo de Wilson desde a adolescência. Até o nome foi idealizado nessa época. "Ele andava na rua, imaginando a loja, e até trombava com a cabeça no poste", diz a filha, a comerciante Cristiane Costa, 50, que nasceu no mesmo ano da Wilson Roupas. Depois vieram mais dois filhos e três netos.
Wilson nasceu em Bauru, filho de um carpinteiro e uma dona de casa. Seu primeiro emprego no comércio foi aos 19 anos, em uma loja de roupas. Estudou só até a 5ª série, mas era contra usar calculadora: um bom vendedor faz as contas de cabeça, dizia.
Quando comprou a loja, aos 32 anos, ia de fusquinha até São Paulo para comprar peças de grife e levar para Bauru. Assim a Wilson Roupas ganhou notoriedade, cresceu e abriu uma filial, em um shopping. "Ele adorava o trabalho, tirava cinco dias de férias e já queria voltar", diz Cristiane.
Mesmo depois do Alzheimer, Wilson insistia em ir até a loja. Em março, pegou dengue e foi internado. Morreu em 6 de abril. Até poucos dias antes, aos 82 anos, frequentava a loja. Ficava lá sentado, mesmo que não estivesse forte o suficiente para trabalhar. "Quero morrer aqui", dizia.
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