Antigomobilismo. Soa como neologismo ou gíria usada no meio dos apaixonados por carros antigos, mas está dicionarizado. Graças a Roberto Nasser. "Não se sabe se o termo é dele, mas foi ele quem conseguiu cunhar", diz o filho Filipe. A história transmitida é a de que Nasser ligou para o próprio Antônio Houaiss para convencê-lo a registrar o termo como uma palavra da língua portuguesa.
Como se pode imaginar, era ele mesmo um amante dos carros. Seu interesse era sobretudo relacionado à indústria automotiva nacional. Em sua pequena coleção, se destacava um exemplar do Onça, cupê Alfa Romeo produzido pela finada FNM, a "Fenemê".
"Foi o nacional mais veloz da época", disse certa vez para a revista Quatro Rodas.
A paixão por carros vem da adolescência. De família de origem sírio-libanesa, os pais, funcionários públicos no Rio, migraram para a nova capital do país em 1961 e o rapaz cresceu no contexto de desenvolvimentismo e em uma juventude que amava corridas.
Foi por 51 anos colunista do mercado automobilístico para diversos jornais. Ainda que fosse intelectualizado, era do tipo fuçador. Botava a mão na graxa e sabia tudo de mecânica.
Tornava-se uma figura ainda mais fascinante —ou "formidável!", seu bordão— pela maneira como se apresentava. Andava de chapéu-panamá, gravata borboleta e uma barba desenhada à moda de séculos passados.
O apreço pelos carros o levou a criar em Brasília o Museu Nacional do Automóvel. Foi a realização de um sonho. Lá estava exposto o seu xodó, e se contava parte da história do industrialismo do país na segunda metade do século 20. Para sua frustração, porém, o público está privado desde 2012 de conhecer o acervo do museu, que está embargado por imbróglio com o Ministério dos Transportes.
Morreu na última quinta-feira (8), aos 72, após um infarto. Deixa a mulher Vera Lúcia, companheira por 40 anos, o neto Antônio e os irmãos Luiz Cláudio, Elizabeth e Beatriz.
Nasser costumava dizer que filhos de imigrantes tinham que se esforçar o dobro para conquistar seu espaço. Por isso, não escondia o orgulho dos seus, o diplomata Filipe e a designer de joias Isabella. "Formidável", exclamaria em seu bordão o senhor de bigode clássico.
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