Em fevereiro de 1979, Wilson Mirza começava um de seus casos mais célebres. O Superior Tribunal Militar tinha 15 pedidos de habeas corpus para analisar por supostos crimes políticos. Entre eles, estava o de Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, no exílio desde 1964, e cliente do advogado.
Os pedidos eram para corrigir ilegalidades praticadas usando a Lei de Segurança Nacional, durante o período em que vigorou o AI-5.
Com um ofício das autoridades uruguaias, Mirza conseguiu mostrar que seu cliente foi confinado a 300 km da fronteira entre os dois países, a pedido do governo brasileiro. E mostrou também que o endereço de Brizola sempre foi de conhecimento do Itamaraty, que não o intimou por carta por opção, o que prejudicou sua defesa.
No mês seguinte, Mirza retirou o HC do STM e pediu que todos os processos de Brizola fossem extintos, com base na nova Lei de Segurança Nacional. Isso garantiu a absolvição e o retorno do líder trabalhista ao Brasil ainda naquele ano.
Mirza já havia representado o ex-presidente João Goulart, derrubado pelo golpe militar, e o antropólogo Darcy Ribeiro.
Formado na Universidade do Estado da Guanabara, hoje Uerj, com mais de 50 anos de carreira, Mirza era um dos decanos da advocacia criminal no Brasil. Representou o ex-ministro Delfim Netto e o banqueiro Daniel Dantas, além de centenas de anônimos.
O secretário-geral do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Carlos Eduardo Machado, que o encontrou algumas vezes em júris, lembra a “oratória refinada” e o “português impecável” do advogado.
“Ele era dedicado ao extremo, do início até o fim de um caso. Com os colegas, era de uma solidariedade extraordinária. Com quem enfrentava nos tribunais, era gentil, cordial, muito técnico. A advocacia está de luto”, diz.
Aos 84 anos, Mirza morreu nesta terça-feira (27), na cidade onde nasceu, o Rio de Janeiro. Ele deixa duas filhas.
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