Descrição de chapéu Alalaô carnaval

Folia em Pinheiros tem clima de rolezinho e até 'passarela do álcool'

Área em nada lembrava clima de blocos que desfilaram no sábado pela cidade 

Mariana Zylberkan
São Paulo

Que tiro foi esse?, gritava um grupo de amigos a cada menina que desembarcava na estação Faria Lima do metrô, para a folia deste domingo (4) em Pinheiros, em São Paulo. A barricada de paquera foi montada estrategicamente ao lado de ambulantes que também queriam aproveitar os que acabavam de chegar por ali.

Lá pela quinta tentativa, para delírio dos amigos, um dos garotos conseguiu um beijo de uma garota com tiara de diabinho. "É Carnaval. Mas está parecendo mais rolezinho", disse Anderson Moreira, 21, que saiu do Grajaú, na periferia da zona sul, para curtir o Carnaval de rua na zona oeste.

No trajeto entre a estação de metrô e a avenida Pedroso de Morais, quase nada lembrava o clima dos blocos de Carnaval que rodaram pela cidade neste final de semana. Caixas de som, em versões menores penduradas no pescoço ou mais potentes posicionadas no asfalto, só tocavam batidas de funk. Nada de marchinhas e muito menos axé, por exemplo.

Lojas de artigos eletrônicos e até um cabeleireiro que ficam a poucos metros da saída do metrô ajudavam com o clima de rolezinho e atraíam grupos com caixas de som, tocando o mesmo ritmo em volume bem alto. Em frente, eles instalaram isopores com gelo para vender bebida. No salão de cabeleireiro, uma placa avisava que era preciso pagar R$ 5 para usar o banheiro.

Passarela do álcool

A enorme concentração de ambulantes transformou a avenida em uma "passarela do álcool" e era preciso vencer a concorrência no grito. "Catuaba, a bebida do amor. Pegou, bebeu, transou", gritava um deles.

Apesar de oferecerem mais cerveja e uma mistura de vodca em lata, os clientes zanzavam de um lado para o outro com garrafas de vodca e energéticos coloridos.

Um grupo de meninas adolescentes rebolava até o chão com copos de bebida nas mãos. Ao lado delas, o funk saia de uma caixa de som gigante levada por Elcio Silva, 23. "Eu que montei [a caixa]. Ontem [sábado] fiquei até meia-noite aqui. Não adianta, o povo prefere funk", disse.

A estudante Rebeca Rodrigues, 18, foi para Pinheiros com as amigas de Perus, na zona norte, em busca dos bloquinhos, mas só encontraram rodinhas de funk. "Sábado viemos no bloco Casa Comigo e estava mais legal. Agora aqui está mais para um rolezinho mesmo", disse ela. "Lá no meu bairro só vai ter Carnaval no próximo fim de semana, por isso viemos para cá mesmo."

Com o filho pequeno vestido de Batman, a dona de casa Cira Barbosa, 22, se frustrou ao chegar no Largo da Batata e não encontrar confete nem serpentina. "Não precisa ser Carnaval para eles fazerem essa bagunça."

O entorno da avenida Faria Lima acabou absorvendo o mesmo movimento que nos anos anteriores criaram problemas nas ruas da Vila Madalena e na Praça Roosevelt.

Após articulação dos moradores com a prefeitura e o Ministério Público, neste Carnaval, o acesso foi controlado nesses dois locais. A gestão Doria (PSDB) criou uma Zona de Atenção Especial no quadrilátero entre as ruas que formam o miolo da Vila Madalena, onde foi proibida a passagem de blocos e a permanência de ambulantes. A estratégia deu certo e o clima era de tranquilidade no sábado.

A Praça Roosevelt foi cercada por tapumes nos dias de desfile de blocos na região da Consolação para evitar a permanência de foliões. "Estamos satisfeitos porque fomos ouvidos pela administração neste ano", diz a presidente da Associação do Bairro da Consolação, Marta Reigarás.

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