Mulher inventa 'sistema', e marido escreve livro s� com o piscar dos olhos
Denise Guimar�es/Folhapress | ||
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Dorivaldo Fracaroli, 56 anos, portador de ELA e sua mulher, Val�ria Maria Fracaroli, 52 |
Tomar sorvete, cuidar de orqu�deas, pescar, dar um beijo no filho. Situa��es rotineiras antes vividas por Dorivaldo Aparecido Fracaroli, 56, de Boraceia (a 316 km de S�o Paulo), se tornaram imposs�veis ao adoecer.
Portador de ELA (Esclerose Lateral Amiotr�fica ), doen�a neurol�gica que atrofia progressivamente os m�sculos e leva � perda dos movimentos do corpo, ele usa cadeira de rodas e se comunica s� com o piscar dos olhos. Respira artificialmente, e o alimento � aplicado no est�mago.
Os limites f�sicos n�o impediram Dorivaldo de escrever um livro. "Ip� 'DO' Amarelo", de 112 p�ginas, foi feito em parceria com a fonoaudi�loga Maria Jos� de Oliveira, 52, que transportava as piscadas dele para o papel.
A hist�ria � semelhante � contada no filme "O Escafandro e a Borboleta". No Brasil, uma tese de doutorado j� foi escrita do mesmo modo.
O livro come�ou a ser escrito em 2014 e traz mem�rias do autor, desde a sua inf�ncia, na zona rural, al�m de como foi a descoberta da ELA, a evolu��o da doen�a e como foi o processo para aceit�-la.
Dorivaldo � famoso em Boraceia, cidade de 4.675 habitantes, na regi�o central do Estado. Al�m de j� ter sido dono de sorveteria, de bar e funcion�rio na C�mara, � o respons�vel pelo desenho da bandeira do munic�pio.
O sistema de comunica��o dele com o mundo foi criado por sua mulher, a professora Val�ria Maria da Silva Fracaroli, 52, quando ele ainda estava na UTI de um hospital em S�o Paulo, em 2012.
O marido teve complica��es em uma gastrostomia (para receber alimenta��o j� no est�mago). Em seguida, tamb�m foi submetido a uma traqueostomia (cirurgia para respira��o mec�nica) e perdeu a fala.
"Eu n�o sabia se ele tinha dor, o que ele queria falar. Era um momento de desespero", lembra Val�ria. Em seguida, em uma folha, escreveu o alfabeto, dividindo em linhas.
As letras "A" at� a "G" ficam na primeira linha. E assim por diante. Ela pergunta se a letra est� na primeira linha, na segunda. Dorivaldo diz sim com uma piscada. N�o, com duas. Quando quer colocar ponto ou v�rgula, levanta as sobrancelhas. "A primeira frase que ele formulou foi perguntar se podia tomar banho", diz a mulher.
TEIMOSIA
Os sintomas come�aram a aparecer em 2008, com dores nos ombros. Em 2009, veio o diagn�stico.
Na �poca viajava todos os dias para trabalhar. "Levou v�rios tombos e n�o me contava. S� ficava sabendo quando ele voltava machucado", conta a mulher.
Enquanto Val�ria lembrava do passado, o marido piscava para confirmar ou corrigir as frases dela. E ria ao ser chamado de teimoso.
Em janeiro de 2013, Dorivaldo retornou a Boraceia. A fonoaudi�loga Maria Jos� Oliveira passou a visit�-lo para consultas. "Ele chegou muito triste, e ent�o eu sugeri que ele escrevesse um livro de qualquer assunto."
Letra a letra, tudo era escrito em uma lousa branca. Quando estava completa, o conte�do era copiado em um livro, � m�o. Inicialmente a pr�pria mulher recolhia os depoimentos. Depois, a tarefa passou para t�cnicas de enfermagem. E, por fim, a fonoaudi�loga Maria Jos�.
Dorivaldo mant�m-se ativo na administra��o da casa. D� palpites, faz contas e aconselha o filho Tadeu, 22. A locomo��o dele por Boraceia � por cadeira de rodas, empurrado por familiares e t�cnicas de enfermagem.
A venda do livro servir� para comprar um computador capaz de reconhecer o movimento dos olhos dele. Hoje, Dorivaldo tem p�gina em rede social, com a ajuda de amigos. Um segundo livro j� est� sendo preparado, sobre a hist�ria da cidade.
Dorivaldo quis tamb�m falar na entrevista � Folha, no s�bado (25), em sua casa.
"A mensagem que eu quero deixar � para que as pessoas nunca desistam, que todos podem fazer alguma coisa para se ocupar", ditou letra a letra � mulher.
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