![zeca camargo](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513516-115x150-1.jpeg)
� jornalista, apresentador e autor de livros como 'A Fant�stica Volta ao Mundo' e '1.000 Lugares Fant�sticos no Brasil'. Escreve �s quintas,
a cada duas semanas.
Lagoas dos Len��is Maranhenses s�o convite para mergulho
Christian Tragni/Folhapress | ||
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Vista do Parque Nacional dos Len��is Maranhenses, parque natural com cerca de 330 km quadrados nas margens do rio Pregui�as, no Maranh�o. |
Esta � a hist�ria de um blefe. Durante anos, quando amigos estrangeiros em visita ao Brasil me perguntavam que outro lugar eles deveriam conhecer aqui –al�m, claro, do Rio de Janeiro, ainda a principal porta de entrada dos turistas– eu respondia sem hesitar: Len��is Maranhenses.
Talvez pegos de surpresa, esses visitantes seguiam meu conselho –e sempre retornavam com as hist�rias mais esfuziantes de tal experi�ncia. Relatos que eu ouvia, confesso, com um certo desconforto– n�o por desacreditar das maravilhas que eles haviam presenciado, mas pelo simples fato de que... eu mesmo n�o conhecia os Len��is Maranhenses!
Sim, eu blefava –mas eu tinha certeza de que minha indica��o n�o era v�. Os Len��is sempre ocuparam no meu imagin�rio uma posi��o de destaque. Sabe aqueles lugares que est�o sempre na sua lista de prioridades –s� que voc� vive adiando a viagem para l�? Era um desses casos –assim como Fernando de Noronha, o Amazonas profundo e at� mesmo as Cataratas do Igua�u.
Eu sei o que voc� est� pensando. Um brasileiro que se orgulha de, por exemplo, j� ter ido quatro vezes a Luang Prabang (Laos) e nunca viu tais maravilhas da sua pr�pria terra? Pois... Em minha defesa, digo que ainda tenho muito f�lego para viajar por este Brasil. E que, talvez, a demora em chegar a tais destinos � mais que recompensada quando eu estou l�. Foi assim na semana passada, quando, ent�o, por fim, eu conheci esse para�so –um adjetivo que sempre reluto em usar, mas que, no caso, � quase insubstitu�vel.
N�o sem antes, claro, sobreviver a uma sofisticada log�stica que inclu�a: achar um voo razo�vel para S�o Lu�s –injustamente esquecida pela nossa malha aerovi�ria; encarar quatro horas de carro entre a capital do Maranh�o e Barreirinhas –o acesso mais pr�ximo do Parque Nacional dos Len��is Maranhenses; cruzar de barco um trecho do malemolente rio Pregui�as –deslizando por suas �guas quase est�ticas; sacolejar numa 4X4 por quase uma hora e s� ent�o subir uma duna cruel de quase 100 metros de altura.
Uso ironia para descrever essas agruras, mas n�o exagero. O caminho � sim tortuoso. S� que uma vez l�... Descrever esse cen�rio � um desafio at� para o rep�rter-viajante mais criativo. Diante dos olhos, apenas dunas, len��is de areia que se movimentam t�o lentos quanto a elipse da pr�pria Terra em torno do Sol. Aqui e ali, lagoas sazonais –tive a sorte de pegar muitas ainda cheias e at� nadar nelas– que s�o como trai�oeiros espelhos a nos iludir inocentemente com o convite para mergulhar no peda�o do azul que refletem. E a� tem o pr�prio c�u que, emprestando de Paul Bowles, n�o s� nos protege como nos inspira a seguir procurando onde ele acaba no horizonte.
Porque tudo que podemos fazer ali � andar, marcar minimamente nossa presen�a, pois, num exemplo de preserva��o, essa paisagem segue pr�stina, cobrando silenciosamente do visitante n�o apenas respeito como vigil�ncia. O melhor que podemos fazer para agradecer tal vis�o � deix�-la intacta. Por isso caminhamos na areia na certeza de que o vento logo vence e apaga nossas pegadas.
E eu segui andando pelos Len��is Maranhenses um dia inteiro. H� quem fa�a passeios de dois, tr�s dias ou mais. N�o tinha tempo para isso –e logo conclui que isso nem seria necess�rio para mim j� que eu tinha ao meu redor a prova de que, como um h�bil jogador de p�quer que nem precisa abrir as cartas que recebe para subir sua aposta, eu estava certo.
Vou seguir sugerindo Len��is como destino priorit�rio para meus amigos. A diferen�a � que j� n�o estou mais blefando. Agora sou testemunha de que l� mora a beleza.
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