Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu petrobras inflação

De Lula a Bolsonaro, política quer tabelar gasolina, dar dinheiro a rico e quebrar Petrobras

Da esquerda à direita se vê solução ignorante e antissocial para reajuste dos combustíveis

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O preço do óleo de soja aumentou 114% desde 2020 no Brasil. O quilo do músculo de boi, 45%. Soja e boi são produtos cotados no mercado internacional, como combustíveis. Desde 2020, a gasolina aumentou 45%. O diesel, 47%.

Os aumentos da comida parecem causar menos revolta que os da Petrobras, que suscitaram reações políticas demagógicas, ignorantes e oportunistas, que de resto em nada refrescam a vida do povo miúdo.

A turma, assim como Jair Bolsonaro, gostaria de tabelar os combustíveis, o que dá besteira no médio prazo (falta de investimento, entre outros problemas) e até mesmo no curto prazo. Pode faltar diesel, por exemplo, com explosão de preços, como se viu em 2018, na greve dos caminhoneiros, apoiada por Bolsonaro. Tabelamentos e subsídios gerais dão dinheiro para ricos, de resto.

Posto de combustível na avenida Pacaembu, em São Paulo - Eduardo Anizelli - 29.mai.2018/Folhapress

Políticos de todo tipo faziam chacrinha com os aumentos. Sapateavam sobre Bolsonaro, sobre os acionistas da petroleira, sobre as privatizações, a conversa de sempre: Lula, PT, Marcelo Freixo, ex-PSOL, ora PSB, Guilherme Boulos, sempre PSOL, Renan Calheiros (MDB), Ciro Gomes (PDT), Arthur Lira do PP, um cúmplice maior de Bolsonaro.

O brasileiro ganha em reais e paga gasolina e diesel em dólar (como no caso da soja, do boi etc.), dizia a turma. Os aumentos enchem os bolsos dos acionistas da Petrobras (é verdade, como também do governo, maior sócio da petroleira). "Tapa na cara" dos brasileiros, "verdadeiros donos da companhia", dizia Lira.

O Brasil vende mais petróleo do que compra no exterior, mas suas refinarias ora não são capazes de refinar, produzir, todo o diesel e toda a gasolina que o país consome. Quanto são capazes de refinar é questão complicada, por motivos que ficam para outro texto. Em 2021, o país importou cerca de 25% do diesel que consumiu.

Se o preço brasileiro for constantemente menor do que o preço internacional, não vai se importar diesel, que pode faltar. Era o risco recente. O país importava combustível mesmo nos anos petistas, embora de fato menos. Aliás, a relação entre o preço do diesel e o valor do salário mínimo agora em 2022 é a mesma de 2008-09 (governo Lula 2). O mínimo comprou mais diesel entre 2012 e 2018, governos Dilma Rousseff e Michel Temer.

Se governo bancar parte do diesel e da gasolina, dará subsídio para todo mundo que consome esses combustíveis, direta ou indiretamente, para ricos e pobres. Os ricos ganham duas vezes, além do mais, pois o governo precisa fazer ainda mais dívida pública para bancar essa conta, pagando juros horríveis, que vão para o bolso dos ricos, que têm o dinheiro para emprestar ao governo.

Por que a esquerda defende essa tolice antieconômica e antissocial?

A Petrobras e seus acionistas poderiam bancar o prejuízo. Isto é, vender combustível a preço menor do que no mercado internacional —seria um imposto disfarçado e dirigido. Assim, a empresa teria menos dinheiro para investir e produzir. Com resultados financeiros piores, pagaria juros mais altos para se financiar etc., o que vimos a partir de 2014. Sob ameaça de tabelamento, novas empresas não entrariam no mercado para ampliar refinarias, por exemplo.

O governo poderia então bancar o rombo da Petrobras, dinheiro que nem tem (pois tem déficit). Por quê? Falta verba para creche, SUS, ciência, infraestrutura ou renda mínima.

Sim, os pobres precisam de dinheiro para enfrentar a dureza ainda maior desta carestia (de comida, casa, botijão etc.). Meter a mão nos preços vai avacalhar o negócio de combustíveis, privado ou estatal, impedir o surgimento de alternativas energéticas eficientes, subsidiar um combustível poluente e decadente. E não vai melhorar a situação dos pobres.

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