Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Txai Suruí

32 mil nas ruas de São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Censo do IBGE de 2022 revelou que São Paulo tem quase 32 mil pessoas em situação de rua. É a maior crise habitacional do século. Pelo IBGE de 2010, a cidade reunia 290.317 unidades habitacionais sem qualquer morador. O número atual representa um crescimento de 103% dessas unidades. A cidade tem 588.978 imóveis vazios, entre casas e apartamentos, representando 12% de todos os imóveis da capital.

A urbanista e professora da USP, Raquel Rolnik elucida que apesar da crise habitacional, São Paulo apresentou também o maior "boom imobiliário" dos ��ltimos anos. Esse "boom" tem relação direta com a disponibilidade de capital e dialoga muito pouco com as necessidades habitacionais da cidade. Ou seja, o aumento de unidades residenciais não resulta no aumento do acesso a essas habitações.

Pessoas dormem no chão de coreto, cobertas com cobertor
Praça da República abriga moradores em situação de rua e dependentes químicos que consomem crack; na imagem, pessoas dormem em coreto. - Bruno Santos/Folhapress

Um dia após a aprovação da revisão do Plano Diretor de SP, o prefeito Ricardo Nunes disse que quer combater o déficit habitacional com incentivo à construção de mais moradias, dessa vez de interesse social. Mas é de mais prédios que a cidade precisa?

O Plano Diretor recebeu várias críticas da sociedade civil e especialistas. O pensamento de Ricardo Nunes é transformar tudo em prédio. O texto autoriza que as construtoras possam fazer prédios com área útil três vezes o tamanho do terreno.

São Paulo produziu 100 mil unidades de habitação com preço de até R$ 350 mil entre 2014 e 2019, mas apenas 15% dessas unidades foram feitas nos eixos, e dessas grande parte eram pequenas e caras. Essas "fake habitações sociais" na verdade contribuem para o encarecimento dos imóveis e favorecem a especulação imobiliária.

Esse processo de verticalização ameaça bairros com construções históricas e comunidades originárias e tradicionais, como por exemplo o Bixiga, na região central da capital. Empreendimentos sufocam cada dia mais a Terra Indígena Jaraguá dos Guarani Mbya crescendo sem qualquer estudo de impacto do componente indígena e derrubando cada vez mais as poucas áreas verdes que restam.

As construtoras e empreiteiras continuam tendo um enorme poder na Câmara, onde o plano diretor teve grande apoio, garantindo a rentabilidade do negócio. Foram 44 votos favoráveis e 11 contrários.

Esse modelo de cidade que tentam ainda nos impor não dialoga com a nossa realidade de emergência climática e necessidade de mudança de postura para garantir um futuro habitável. Não podemos continuar achando normal matar e enterrar rios, construir grandes prédios de concreto e aço em cima das nossas matas, enquanto existem milhares de habitações vazias. Não se pensa na necessidade de cidades cada vez mais sustentáveis nem em abrigar quem realmente precisa.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.