No futebol, em qualquer atividade e na vida, o conhecimento, a ciência e a estratégia são fundamentais para conseguir os objetivos. Porém, há sempre um porém, não deveríamos ser extremamente racionais, utilitários e ingênuos de achar que tudo é programado nem que acontece sempre por detalhes ocasionais.
No futebol, essa ambivalência é ainda mais evidente. Tão importante quanto o planejamento e a estratégia de jogo, são as decisões e as escolhas individuais.
Palmeiras e São Paulo voltam a se enfrentar na terça-feira (17), pela Libertadores. O primeiro jogo entre os dois, mais uma vez, foi bastante disputado, ruim, feio, equilibrado e com pouca criatividade individual e coletiva. Algumas ações individuais foram estarrecedoras. Os dois estudiosos treinadores deliraram nas escalações e na organização tática das equipes.
Foram dois times confusos. O São Paulo, que atuava bem com três zagueiros e com dois ótimos alas (Daniel Alves e Reinaldo ou Welington), colocou o zagueiro Léo de lateral esquerdo e deixou os dois atletas da posição fora. O Palmeiras não tinha ninguém para atacar pela direita, a não ser em raríssimas vezes, com o lateral Marcos Rocha, que tinha também a função de um terceiro zagueiro. Não entendi nada.
Ficaram fora o meia Benítez, que se destaca pelo passe surpreendente e preciso, e Scarpa, excepcional nas bolas cruzadas, um lance importante para um time que não tem inventividade no ataque.
No futebol, alguns parâmetros e clichês precisam ser revistos. Nós, da imprensa, gostamos também de delirar, de dar importância a detalhes estratégicos que têm pouca ou nenhuma importância. As redes sociais influenciam as decisões e as opiniões. Também não faz mais sentido nenhum analisar a atuação e as estratégias de uma equipe pelo sistema tático, pelos números. A cada instante de um jogo, há um novo desenho na prancheta.
Não deveríamos valorizar a eficiência de um ataque pelo número de finalizações, mesmo que acerte o gol. Uma equipe pode ter várias chances claras de gol, sem finalizar, e também o contrário.
Pior que os delírios táticos e algumas estatísticas que não servem para nada é não compreender, não saber ver e não dar nenhuma importância à qualidade e à beleza do espetáculo.
Não é por acaso
Gostei das convocações de Arana, de Claudinho, de Matheus Cunha e de Bruno Guimarães, além das de Daniel Alves e de Richarlison, que já eram esperadas. Todos estavam nas Olimpíadas. Matheus Cunha ainda não é, mas tem pinta de que será, em pouco tempo, superior a todos os centroavantes atuais da seleção. Claudinho mostrou, nas Olimpíadas, que é mais que um meia de ligação clássico e centralizado.
Atuou também pelo lado, marcando e organizando as jogadas. Além disso, após a expulsão do volante Douglas Luiz, Claudinho recuou e foi muito bem, atuando de uma intermediária à outra. Tite deve ter gostado.
A grande deficiência da seleção, repito, pela milésima vez, é a ausência, há bastante tempo, de um craque meio-campista, capaz de jogar de uma intermediária à outra, que não seja volante nem meia ofensivo. É uma mistura dos dois. Os volantes convocados, Casemiro, Fabinho, Bruno Guimarães e Fred, e os meias Paquetá, Claudinho, Éverton Ribeiro e Raphinha não são esse tipo de jogador.
A falta desse meio-campista existe porque os técnicos brasileiros, desde as categorias de base, dividem o meio-campo entre os volantes e os meias. Não é por acaso.
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