Neste ano, a grande escritora Clarice Lispector, com seu olhar enigmático, faria cem anos. Clarice era obcecada por saber o que estava atrás do pensamento, o que ainda não se juntou à palavra, não se tornou consciente. É o que está à flor da pele.
Isso me faz lembrar o futebol, os grandes craques, que, em uma fração de segundos, anteveem o que está atrás, antes do lance. Como ele sabe? Sabendo. É um saber que antecede ao pensamento lógico. Ele sabe, mas não sabe que sabe.
É o futebol que eu gostaria de ver, no Brasil, na Libertadores, em todo o mundo, bem jogado, com arte, técnica e emoção. Como dizia Nelson Rodrigues, sem alma não se chupa nem um Chicabon.
Temos também de fazer nossa parte, sem passar, a cada partida, da depressão à euforia, sem elogios fáceis nem críticas tendenciosas.
Começou nesta terça (3) a fase de grupos da Libertadores. Nesta quarta (4), Flamengo e Palmeiras, as duas equipes brasileiras que têm melhores elencos, estreiam na competição.
O Flamengo, fora de casa, contra o Junior Barranquilla, é a grande atração, mas não há certeza de nada. É mais difícil ser bicampeão. O time, sem Rodrigo Caio, Rafinha, Arão e Bruno Henrique, fica menos forte.
Luxemburgo, que tem feito algumas experiências na escalação e na estratégia, prometeu que, na Libertadores, definiria a melhor equipe.
Fora de casa, o Palmeiras é o favorito contra o Tigres, quinto colocado da Série B do Campeonato Argentino.
Contra o Santos, o Palmeiras, no primeiro tempo, surpreendentemente sofreu pressão do adversário, que mudou a maneira de jogar.
Na segunda etapa, Luxemburgo tirou um armador, Raphael Veiga, e colocou mais um atacante, Rony.
O jogo ficou equilibrado, com chances de gol dos dois lados, mas o marcante foi o número absurdo de erros técnicos das duas equipes e os enormes espaços que deixavam quando avançavam e perdiam a bola. Parecia uma pelada.
Fiquei preocupado com o futuro dos dois times, contra adversários mais fortes.
O São Paulo é a equipe brasileira, depois do Flamengo, que tem jogado melhor futebol.
Daniel Alves é o craque, o gestor da equipe em campo e um dos melhores do país. Quando estreou, eu achava que Daniel deveria jogar na lateral. Mudei de opinião. Nas alturas, a 3.850 metros, contra o Binacional, do Peru, não dá para analisar a atuação do time.
Pato, como se espera de um bom centroavante de um bom time, tem feito gols. Nada mais que isso.
Mesmo assim, tudo o que faz de bom ou de ruim é tratado como algo espetaculoso. No gol que fez, contra a Ponte Preta, o narrador gritou bem alto: “É dele, é dele”, como se Pato fosse um grande craque. Na mesma hora, lembrei-me de um narrador do passado, que, brilhantemente, chamava Pelé de “Ele”, uma deferência a uma entidade.
A novidade, no meio de semana, foi a contratação do caríssimo Sampaoli pelo Atlético, após o presidente do clube ter dito que o Galo não iria “cruzeirar”, gastar o que não pode.
Segundo Paulo Vinicius Coelho, Sampaoli e sua turma ganharão R$ 1,2 milhão por mês, como se trabalhassem em um dos grandes clubes do mundo. O técnico teria pedido ainda cinco contratações e exigido uma fortuna caso seja despedido.
Se não der certo, o Atlético terá muito mais dificuldade de pagar a dívida, que ficará ainda maior, ainda mais que o time está fora da Copa do Brasil, da Libertadores e da Sul-Americana. Dizem que terá a ajuda de empresários, mas nenhum dá dinheiro de graça para clubes.
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