"Cadê os negros/as? Cadê as mulheres, Lula? Queremos estar do lado de lá da mesa". Eis o post meu que viralizou no Twitter no dia 8. Ele reproduzia foto em que se viam 17 homens brancos, incluindo Lula e Alckmin, e duas mulheres brancas, sendo uma a namorada de Lula e a outra Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
As reações foram, digamos, curiosas. "Não é hora de criticar Lula." "Esqueçam a cirandagem identitária até outubro." "Arrogante." "Viver de alimentar polêmicas inúteis com população comendo osso fala muito de você." "Um jornalista sério olharia para os governos do PT e constataria o espaço dado às minorias. Não ficaria tentando lacrar." "Nas fotos da turma do Bolsonaro tem o Hélio Negão e o Sérgio Camargo. Vota nele."
Esqueçam o post, pois aqui não é sobre nós, mas sobre se queremos construir um campo progressista onde a branquitude seja tão frágil que não consiga contestar uma crítica sem cair no paternalismo da casa-grande: calem-se, porque lhe demos direitos. Branquitude impera em parte da esquerda que pensa que tutela, do alto de sua superioridade, os pobres.
Lula e Gleisi têm reconhecido, nos últimos anos e sob pressão, que não coadunam com esse estado de coisas. Como apontou Luiz Augusto Campos (Uerj) no Nexo Jornal: "Grande parte do sucesso da esquerda se deveu à incorporação do movimento negro e feminista à gestão pública. Resta incorporá-los ao poder partidário". O PT logrou sim avançar pautas sociais como nenhum outro partido, mas o fez porque houve críticas, como a que fiz: quantos de nós dirigimos o partido?
A política é feita de imagem e de política pública: ou o PT-PSB reconhece que os ventos da mudança apontam para compartilhar os assentos na mesa e na foto, ou estarão referendando que o velho normal, pré-Bolsonaro, era suficiente. Não era, houve Belo Monte, lei de terrorismo e lei de drogas e pouca garantia de direitos LGBTs e para mulheres. Precisamos pensar um novo futuro, com Bolsonaro derrotado.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.