Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi
Descrição de chapéu É Coisa Fina

Livro reúne visões do amor, de Platão a Freud

Com extensa pesquisa, filósofo procura responder o que, afinal, é o amor

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Por que amamos

  • Preço 23,73
  • Autoria Renato Noguera
  • Editora Harper Collins

O que “O Banquete”, de Platão, tem a nos ensinar sobre o amor? E o romance heteronormativo “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, será que ainda emociona os jovens que experimentam ou debatem, cada vez mais, relações abertas, fluídas e pautadas pelo poliamor?

Renato Nogueira, doutor em filosofia e pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, se debruçou arduamente sobre contos, fábulas, mitos africanos, textos célebres de filósofos e pensamentos de diferentes sociedades, com as seguintes questões: “Afinal, o que é o amor? Seria uma forte amizade? Uma paixão incontrolável? Será que o amor verdadeiro existe? É possível encontrá-lo?”.

Homem branco nu, com asas de anjo, voa com uma mulher branca nua em seus braços, os dois têm véus em tons de roxo que envolvem seus corpos
Quadro "O Rapto de Psiquê", do pintor francês William-Adolphe Bouguereau. A obra de 1895 representa o mito romano de Cupido e Psiquê - Reprodução

Como literatura, a obra cai em alguns lugares-comuns que podem distanciar os leitores mais exigentes, mas, como ensaio, o livro é um ótimo e rico material de pesquisa, amplamente interpretado por Noguera.

Durante a leitura, podemos relembrar histórias mais óbvias, como a de Adão e Eva e a de “As Mil e Uma Noites”, na qual a nobre jovem Sherazade salva sua vida porque nunca termina de contar um envolvente enredo ao traumatizado rei Shariar —nos ensinando que “a vida é um fenômeno narrativo” e, ainda, sobre a importância de manter algum mistério, deixando o outro sempre curioso (e, não obstante, que as relações eram e são muito pautadas pelo machismo: “a mulher não pode se dar toda logo de cara”). E conhecer pontos de vista bastante surpreendentes, como o da filósofa burquinense Sobonfu Somé.

Somé é proveniente do povo dagara, do oeste da África, e tem uma visão bem contrária à nossa ocidental. Ela defende que o amor é uma emoção mais coletiva do que individual e que, por isso, não podemos considerar nosso ego na brincadeira. Para ela, amar é um percurso de intimidade. Se a paixão fosse o suporte da relação, “começaríamos a trajetória pelo topo e só nos restaria descer”.

Ao lermos “A Metafísica do Amor”, de Schopenhauer, ou estudarmos a psicologia evolucionista, podemos entender que a relação entre Marilyn Monroe, maior símbolo sexual de todos os tempos, e o escritor Arthur Miller, agraciado com um Pulitzer, seria apenas “ímpeto de reprodução e manutenção da espécie humana”.

Já a Antiguidade tinha outra forma de interpretar impulsos amorosos, dando destaque à importância da estética. A medida ideal do rosto foi chamada de “proporção divina” e, “quanto mais próxima a aparência de alguém estivesse desse valor matemático, mais atraente a pessoa seria”.

A história de Cupido e Psiquê, um clássico da mitologia romana (Cupido equivalente a Eros na grega), nos traz, segundo Noguera, uma resposta bem simples: “a verdadeira face do amor é justamente o equilíbrio entre prazer e cuidado”. Para o budismo, “o amor é um exercício de cuidado que não pode ser confundido com apego, muito menos com desapego”.

Freud não poderia faltar nesse compilado. Muito menos a sua definição para os três tipos de ciúme: competitivo, projetivo e delirante. Sendo este último um forte indício de que o ciumento tem desejos homoafetivos.

Na psicanálise, ainda, encontramos argumentos para defender que amor e ódio andam juntos, são sentimentos irmãos.

Ao final, o que fica claro, como o próprio Nogueira conclui, é que amamos porque estamos vivos e assim desejamos continuar.

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