Vivendo e aprendendo, como diziam nossas bisavós. É o tipo de frase boba que você está sujeito a tirar naqueles embrulhinhos de papel que vêm dentro de biscoitos nos restaurantes chineses, chamados biscoitinhos da sorte. Pois, vivendo e aprendendo. Acabo de descobrir, com 20 anos de atraso, o significado de uma palavra do internetês que a todo instante me surge na tela do computador: "cookies". São uma "ferramenta de rastreio de informações de consumo dos usuários da internet", segundo seu criador, Lou Montulli, engenheiro americano de software. Vem do inglês "fortune cookies", os ditos biscoitos.
Os cookies são o bombardeio, em todas as mídias digitais, de ofertas de produtos que tenham a ver com você, induzindo-o a comprá-los. Quem gosta de romance policial fica sabendo que saiu um novo James Ellroy. Quem gosta de pescar é informado do lançamento de uma isca que substitui com vantagem a minhoca. Quem gosta de jogar pôquer é convidado a enfrentar o Neymar.
Assim como só abrimos o biscoitinho e lemos a frase se quisermos, diz Montulli, ninguém é obrigado a comprar o que os cookies oferecem. Mas não é assim: o ser humano não resiste a uma oferta que lhe entra pelos olhos sem ele pedir. Eu próprio já comprei um livro de Platão em grego, embora o grego, para mim, seja grego.
Os cookies são uma conspiração universal. Quando você dá o número do seu CPF no balcão da farmácia, essa informação é combinada com o nome dos remédios que mais consome, revelando que você sofre do baço ou do intestino grosso, e tome de ofertas de produtos referentes a eles. É como se o biscoitinho da sorte que você tirou no chinês lhe sugerisse tomar um Sonrisal para rebater o porco agridoce que acabou de comer.
Bem fazia Mao Tsé-tung, o ditador chinês. Ao receber um cookie num restaurante, não o abria. Dava-o ao seu ajudante de ordens para que ele o comesse, com bilhetinho e tudo.
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