Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Vem aí: bolsonarismo sem Bolsonaro

Um caubói caminhoneiro acaba de chamá-lo de frouxo. Um dia, toda criatura se volta contra o criador

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Faixas abertas por seguidores de Jair Bolsonaro nas arruaças de 7 de setembro faziam ameaças aos seus inevitáveis desafetos: STF, TSE, CPI, TV Globo, petistas, governadores, jornalistas, intelectuais, artistas, cientistas, povos indígenas, ecologistas, feministas, negros, gays, usuários de máscara e demais comunistas. Até aí nada demais, eles odeiam o mundo. O surpreendente foi a aparição em algumas faixas de dois nomes tachados de "cânceres": o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco, presidentes das casas do Congresso. Mas como? Por quê? É assim que os bolsonaristas agradecem a quem tanto os ajuda —voltando-se contra eles?

Sim, assim como se voltaram contra Sergio Moro, que lhes deu numa bandeja a eleição de Bolsonaro, e contra todos os que por algum motivo desertaram da matilha. A diferença é que, até há pouco, esperavam pelo chefe para saber a quem odiar. Agora já escolhem por conta própria os inimigos a destruir. Era inevitável: de Adão aos robôs da ficção científica, a história está cheia de criaturas que se libertaram de seus criadores.

Nas manifestações em Brasília, eles atacaram uma equipe da TV Record —que mandamento do bolsonarismo ela terá desrespeitado? Augusto Aras, passador-de-pano-geral da República, ousou dizer no dia seguinte que a Constituição nunca poderá ser afrontada —por acaso saberá o que está fazendo? E o mocho ministro Kassio Marques que ouse votar com os liberais numa sessão do STF para ver o que lhe acontece.

Bolsonaro é destrambelhado e estúpido demais, e os bolsonaristas logo precisarão de alguém melhor. Um indício de que já começaram a se mover sozinhos é a classificação de "frouxo" dada publicamente a ele por um patético caubói caminhoneiro, por Bolsonaro ter ordenado a dissolução da greve da categoria.

Hoje sabemos que o bolsonarismo já existia antes de Bolsonaro. O trágico é descobrir que talvez sobreviva a ele.

Faixa de protesto em frente ao Congresso contra o senador Rodrigo Pacheco - Luiz Souza /Fotoarena/Folhapress

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