Jair Bolsonaro anunciou para seu gado que só sairá da Presidência no dia 1º de janeiro de 2027. Se se confirmar, será um alívio. Pelo que fez até agora e continua impune, é tocante sua benevolência de contentar-se com uma única reeleição —esta, já dada de barato. Mas o que o impedirá de, a qualquer momento, decretar-se eterno no poder? Se fizer isso —e não precisaria nem esperar pela reeleição—, é porque sabe que poderá contar com a impotência e o aval bovino dos demais Poderes.
Sua certeza se baseia no sucesso de sua tática, aprendida com os amigos milicianos, de governar pela bofetada. Simbólico ou não, é o tapa na cara. Bolsonaro bate e ninguém reage. Esbofeteia ministros —Sergio Moro, por exemplo, enquanto no cargo, tomou tanto na cara que parecia gostar—, aliados de primeira hora, servidores de carreira, cientistas, juristas. Dias Toffoli viu-o reduzir o STF a palanque e ficou firme, mas, sem a barba, sua face avermelhada acusava a marca da mão aberta. Quanto ao Exército, Bolsonaro pode, por enquanto, recolher a palma. Compra-o a prestações dando-lhe empregos, oficialzinho por oficialzinho.
A palavra impeachment está em todas as bocas, mas, se você esperar pelo Congresso, espere sentado. A maioria de seus membros tem motivo para manter Bolsonaro no trono: o centrão, a que pertencem Rodrigo Maia e David Alcolumbre, por estar lhe vendendo proteção, e a oposição, leia-se o PT, por preferir que Bolsonaro "sangre" até 2022 —se houver 2022. Nas horas vagas, por esporte, Bolsonaro esbofeteia os heróis da saúde, os mortos do coronavírus e os coveiros.
Donde, se não há como remover Bolsonaro pela lei ou pela força, só parece restar um recurso: sua morte. Por Covid.
Se for verdade, como afirma, que seus exames deram negativo, significa que ele ainda pode ser infectado. De preferência, por um seguidor. Deus é grande.
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