Há dias, numa coluna sobre João Gilberto, citei a gravadora Odeon como “a mais importante da nossa história fonográfica”. Um jovem pesquisador musical me perguntou: “Foi mesmo a Odeon? Não terá sido a Philips, que, entre 1960 e 1980, tinha Os Cariocas, o Tamba Trio, Elis Regina, Nara Leão, Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal e Bethânia?”.
De fato, a Philips dominou o mercado naqueles 20 anos. Mas o reinado da Odeon, cheio de pioneirismos, estendeu-se do começo do disco no Brasil, em 1902, até justamente os anos 60. Foi pela Odeon que o primeiro cantor brasileiro, o famosíssimo Baiano, lançou o “Pelo Telefone”, em 1917. Foi também pela Odeon que, a partir de 1927, Francisco Alves e Mario Reis fixaram o samba, gravando os clássicos instantâneos de Sinhô e os da turma de Ismael Silva no Estácio.
Houve um momento nos anos 30 em que a Victor, a marca do cachorrinho, pareceu se impor. Ela já tinha Carmen Miranda, Silvio Caldas e Carlos Galhardo; conquistou por algum tempo Chico Alves e Mario Reis e revelou o fenômeno Orlando Silva. Mas bastou Carmen ir para a Odeon, em 1935, para esta recuperar a supremacia. Então, de novo na Odeon, Chico Alves gravou “Aquarela do Brasil”, em 1939. E aí, por ela, vieram “Ai Que Saudades da Amélia”, em 1942, com Ataulpho Alves; “Baião”, em 1946, com os Quatro Ases e Um Coringa, inaugurando o gênero; e “Segredo”, em 1947, com Dalva de Oliveira, estabelecendo o samba-canção.
Foi na Odeon, em 1958, que a bossa nova começou, com João Gilberto. E, nos anos 70, enquanto a Philips tentava reduzir tudo à “MPB”, foi a Odeon que manteve o samba vivo, com Elza Soares, Paulinho da Viola, Clara Nunes.
A Philips foi importante, sim, mas só naquela fase. Antes de 1960, ela não existia. E, a partir dos anos 80, quem deixou de existir foi a música brasileira.
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