“Michel Temer mandou fazer a intervenção no Rio de Janeiro, mas não é lá um grande admirador da cidade —ou ao menos não faz boa propaganda dela no exterior”, escreveu Lauro Jardim em sua coluna no jornal O Globo do domingo último (1º). “Em janeiro, em seu encontro com o publisher do ‘New York Times’, A.G. Sulzberger, durante o fórum de Davos, Temer resolveu dizer onde o jornal deveria fincar o seu correspondente no Brasil, tirando-o do Rio: ‘Deixe eu lhe explicar como funciona o Brasil: a política está em Brasília e a economia, em São Paulo. Então, por que o Rio?’” .
A.G. [Arthur Gregg], 37, é o sexto Ochs-Sulzberger consecutivo a comandar o jornal The New York Times desde 1896. Sob eles, o correspondente do jornal no Brasil sempre ficou no Rio. Como A.G. parece respeitar o trabalho de seus maiores, seria o caso de ele investigar o por quê dessa decisão —para Temer, tão esdrúxula. Talvez os Sulzbergers vissem no Rio algo mais que as manobras políticas ou negociatas que, para Temer, constituem sua única razão de viver.
Por acaso, o Rio também foi, como capital do Brasil —de 1763 a 1960, atravessando a Colônia, o Vice-Reino, o Reino, o Império e a República—, o centro das manobras e negociatas no país. E também não era por isso que o NYT via o Rio como o umbigo da nação. Talvez o jornal estivesse interessado nas histórias que a cidade produzia —e produz. Jornais gostam de histórias.
O palpite errado de Temer nas decisões do NYT, além de grosseiro e inconveniente, reflete sua maneira de entender o país. A política e a economia podem não estar mais no Rio, mas o Brasil está. Por seu peso cultural e histórico, composição social, contradições e centralidade, é aqui que se cozinha o país. Queira ou não Temer.
Que deveria ler o NYT para conhecer melhor o Brasil.
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