![ruy castro](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15321466.jpeg)
� escritor e jornalista. Considerado um dos maiores bi�grafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve �s segundas,
quartas, sextas e s�bados.
A cidade do s�culo
RIO DE JANEIRO - Escrevi aqui na segunda-feira �ltima (18) sobre a diferen�a entre a Lisboa de hoje, que apaixona o mundo, e aquela em que morei a trabalho nos anos 70, carrancuda, fechada, silenciosa —t�pica de uma ditadura de d�cadas, que sustentava uma guerra colonial condenada pelos �rg�os internacionais, aos quais o governo portugu�s respondia com sua atitude do "orgulhosamente s�s". O mundo, ao ouvir isto, dizia OK e deixava Portugal para l�.
N�o se ouviam outras l�nguas nas ruas. As praias, desertas. Turismo, aparentemente zero. A economia, parada —alugu�is, t�xis, produtos nas prateleiras, tudo a pre�os de 20 anos antes. Para proteger os vinhos, a Coca-Cola era proibida no pa�s —comprava-se de contrabando, vinda da Espanha.
Nos jornais lisboetas, Portugal era o para�so e as not�cias desagrad�veis s� se referiam ao estrangeiro —o pr�prio Brasil, velho aliado do regime e tamb�m sob ditadura, era, j� ent�o, um pa�s ca�tico e violento. �s 23h, Lisboa ia dormir.
Um dos poucos lugares com vest�gios de vida era uma galeria comercial perto da Pra�a de Touros, a Apolo 70. Continha uma loja de revistas, um cinema (onde, em fins de 1973, aos s�bados � noite, assisti a um festival Fred Astaire-Ginger Rogers) e, no subsolo, um snack-bar onde eu beliscava alguma coisa depois do filme. S� anos depois, ao ler as mem�rias de Otelo Saraiva de Carvalho, descobri que, no snack, justamente naquelas noites, deram-se reuni�es dos jovens oficiais que, em abril de 1974, fariam a Revolu��o dos Cravos. Ou seja, em meio � pasmaceira, devo ter me sentado a uma mesa ao lado dos que tramavam a queda do regime.
O Apolo 70 est� l� at� hoje. Mas agora � uma galeria como muitas, sem qualquer import�ncia. A cidade � sua volta � que despertou, abriu-se para o mundo e inaugurou o s�culo 21.
Livraria da Folha
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