![ruy castro](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15321466.jpeg)
� escritor e jornalista. Considerado um dos maiores bi�grafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve �s segundas,
quartas, sextas e s�bados.
Em pessoa
RIO DE JANEIRO - Em 1964 ou 65, o trombonista Raul de Souza –hoje, �s v�speras dos 80 anos e ainda em grande forma– era a estrela de uma gera��o que estava fazendo do samba-jazz brasileiro a melhor m�sica instrumental do mundo. Entre seus colegas havia saxofonistas como Paulo Moura, Aurino e Meirelles, pianistas como Luiz E�a, Sergio Mendes e Ten�rio Jr., bateristas como Milton Banana, Edison Machado e Dom Um, todos trabalhando na mesma cidade, na mesma noite, quase nos mesmos lugares.
Com esse cacife, Raul podia tirar o Carnaval para descansar. N�o que n�o gostasse de Carnaval –sua forma��o era a da gafieira, onde os trombonistas tamb�m tinham de tocar a todo pano, no maior volume e sem parar, durante horas, ou enquanto o bei�o aguentasse. E, certamente, n�o que n�o precisasse do dinheiro –no Carnaval, os bailes e festas eram di�rios e pagavam bem. Mas ele preferia parar por uns dias e relaxar a embocadura exigida por coisas dif�ceis como "Estamos A�", "Voc� e Eu" e "Jor-Du", que tocava no resto do ano.
Assim, quando um amigo o convidou a tocar com ele numa festa de gr�-finos em Ipanema no s�bado de Carnaval, Raul declinou: "Obrigado, Fulano, mas n�o estou a fim de Carnaval". O outro insistiu: "Mas que Carnaval, Raul? O cara � seu f�, gosta de jazz e bossa nova, s� tem intelectual entre os convidados. E a grana � boa". Raul tentou ser firme: "N�o d�. E se, de repente, algu�m pede 'Mam�e Eu Quero'? N�o vou, n�o".
O amigo garantiu que n�o havia essa possibilidade. S� iam tocar de "Fly Me to the Moon" para cima. E a grana era mesmo boa. Apreensivo e relutante, Raul se deixou convencer. Na noite marcada, pegou seu trombone e foi trabalhar. Nas ruas, s� se ouvia "Olha a Cabeleira do Zez�". Subiu ao 20� andar do pr�dio e tocou a campainha. E quem abriu a porta?
O Rei Momo em pessoa.
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