Minas Gerais vive situação fiscal trágica mesmo para o padrão dantesco da federação. Sofre, por exemplo, para baixar seus gastos com pessoal ao teto legal de 60% da receita corrente líquida.
Mesmo assim, o governo mineiro encontrou meios de mobilizar, em pleno domingo de Páscoa, piloto e helicóptero oficial para buscar o vice-governador e sua esposa em um spa de luxo na região metropolitana de Belo Horizonte.
Paulo Brant, o vice, e Romeu Zema, o governador, foram os únicos eleitos no ano passado pelo Novo para cargo executivo. O compromisso de gestão de seu partido é atuar “tendo como princípio que os recursos públicos são escassos e derivados dos impostos do cidadão”.
O velho Zema era peremptório ao aplicar o princípio acima. “Vou acabar com a farra dos voos. Até o ano passado, quem governava Minas tinha à disposição sete aeronaves, utilizadas até para transportar familiares, sem que a população soubesse como e o porquê.”
O novo Zema acha que está tudo bem. Seu governo explicou o voo do vice: “A justificativa para o uso do helicóptero é o fato de o hotel estar na rota aérea para Ouro Preto, onde aconteceu, neste domingo, a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência”. Faltou acrescentar que a rota existe justamente porque ele resolveu dar uma voltinha aérea para evitar os 85 km de estrada.
Novo esse problema não é para a grande família política mineira. Dois ex-governadores, Fernando Pimentel (PT) e Aécio Neves (PSDB), já enfrentaram desgaste aeronáutico por não respeitar a distância mínima entre coisas do Estado e uso pessoal. O costume aéreo mineiro significa bem mais do que o que está no ar.
“Assim é porque sempre foi”, escreveu Raymundo Faoro após estudar a conjunção carnal entre público e privado que aqui consolidou uma forma de exercer o poder. São palavras da segunda edição de “Os Donos do Poder”, em 1973. Não surgiu nada de realmente Novo desde então.
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