Jornalista � secret�rio de Reda��o da �rea de Produ��o da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve �s quintas.
Considerado o investimento p�blico, Brasil n�o foi t�o bem assim nos Jogos
Sergio Moraes/Reuters | ||
Medalhas de ouro, prata e bronze dos Jogos Ol�mpicos do Rio-2016 |
Se levados em conta o volume de investimento e o peso hist�rico do fator casa nos Jogos, o desempenho esportivo dos brasileiros nesta Olimp�ada n�o � t�o bom como faz crer o discurso oficial.
A quest�o importa porque h� um gasto significativo de dinheiro p�blico com um objetivo: ter um posto de destaque no quadro de medalhas.
� f�cil a discuss�o escapar do foco porque entra na conta um grande componente emocional (afinal, quem � que n�o ficou feliz da vida quando Neymar acertou aquele p�nalti hist�rico?). Existe tamb�m uma diversidade de crit�rios poss�veis, em meio a realidades diferentes em cada modalidade. Com o nervosismo das disputas, acaba-se por esquecer qual a expectativa antes dos Jogos.
Vale tomar como ponto de partida a meta do governo e do Comit� Ol�mpico Brasileiro: ficar entre os dez primeiros pelo total de medalhas. O Brasil acabou em 13�, com 19 p�dios. Isso ocorreu porque outros pa�ses tiveram mais medalhas do que o esperado? N�o. Quem levou a desejada d�cima coloca��o foi o Canad�, com 22 p�dios, menos do que o previsto pelo COB.
INVESTIMENTO P�BLICO NO ESPORTE BRASILEIRO - No ciclo ol�mpico Londres-Rio
Em an�lises n�o oficiais, a dist�ncia entre expectativa e resultado � ainda maior. A mais famosa das previs�es ol�mpicas, da publica��o americana "Sports Illustrated", dava 20 medalhas para o Brasil, com 6 ouros (foram 7). A m�dia das opini�es de jornalistas esportivos da Folha projetava 26 medalhas, conforme publicado em junho. A ag�ncia Associated Press estimava 29 medalhas.
Ao apontar que o Brasil n�o atingiu sua meta, a CNN disse que o pa�s valoriza "qualidade e n�o quantidade", descrevendo como festejamos loucamente cada p�dio –n�o � para menos.
A melhor coloca��o da hist�ria n�o � exatamente um feito espetacular se olhada em perspectiva. Qualquer pa�s-sede tem um impulso. O nosso foi o menor de todos os �ltimos anfitri�es. Houve s� duas medalhas a mais do que em Londres, aumento de 12%.
V�nhamos de um patamar espetacular? N�o. O grande salto brasileiro se deu na Olimp�ada de 1996, a primeira de Carlos Arthur Nuzman no COB, quando pulamos para 15 medalhas. Desde ent�o passamos os Jogos nessa toada, �s vezes um pouco melhor, �s vezes um pouco pior.
Em Atlanta-96, ali�s, o Brasil ganhou as mesmas 15 medalhas que a Gr�-Bretanha. Os brit�nicos fizeram ent�o uma reorienta��o dos investimentos para galgar posi��es no quadro. No Rio, ultrapassaram a China e se tornaram o primeiro pa�s-sede a melhorar nos Jogos seguintes.
O exemplo mostra que n�o � por falta de dinheiro que o Brasil n�o brilha. O gasto p�blico dos brit�nicos no ciclo ol�mpico foi de R$ 1,5 bilh�o, nem metade dos R$ 3,7 bilh�es do Estado brasileiro. Como definiu o governo ao lan�ar o Plano Brasil Medalhas em 2012, tratou-se de "um novo patamar". � pela �tica desse gasto que o esporte de alto rendimento deveria ser avaliado, mais do que por curiosidades como rankings de renda m�dia e popula��o.
S� das loterias sa�ram R$ 700 milh�es, conforme define a lei Piva, sancionada em 2001 e exemplo de que descontinuidade tamb�m n�o � o problema. Nuzman comanda o COB h� 21 anos.
O mesmo governo que � r�pido ao distribuir as cartas que financiam o esporte embaralha argumentos ao avali�-lo. " [O n�mero de finais] � o dado que considero mais importante, j� que a medalha depende de outros fatores na disputa", afirmou o ministro Leonardo Picciani –como se o n�mero de finais tamb�m n�o dependesse disso.
Em crit�rios mais espec�ficos � poss�vel encontrar pontos de sucesso e fracasso.
A festejar: o sucesso retumbante da aposta na canoagem, que rendeu tr�s medalhas. Ou o progresso in�dito em esportes de pouca tradi��o aqui, como esgrima, levantamento de peso e lutas.
No meio no caminho est�o os os v�leis de praia e de quadra, mamutes da hist�ria ol�mpica brasileira. Na praia, a meta de quatro medalhas ficou pela metade. Na quadra, o masculino foi ouro, mas o feminino cumpriu o pior papel desde Seul-88.
Na coluna negativa aparecem modalidades historicamente importantes. O caso extremo � o do basquete: as duas duas sele��es ca�ram na primeira fase, o pior desempenho j� visto. Nata��o, sem medalha, e jud� tamb�m ficaram aqu�m do desejado.
A vida adiante n�o vai ser mais suave do que agora. Destaque do Rio, a Gr�-Bretanha prev� Jogos bem mais dif�ceis em T�quio-2020, com a China renovada, a Austr�lia querendo reaparecer e um pa�s-sede forte –"o que n�o tivemos aqui", segundo Bill Sweeney, chefe-executivo do Comit� Ol�mpico Brit�nico.
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