A escalada dos fuzis
Um alucinado e seus asseclas minam diariamente a democracia e a vida dos brasileiros
Um pouco antes do golpe que derrubou Dilma Rousseff, o assunto era tratado pela futura oposição, então situação, como uma balela. Já os conspiradores, com Michel Temer de porta estandarte na avenida, contavam os votos no parlamento bastardo. O final do enredo dispensa comentários.
O mesmo aconteceu com as contra-reformas trabalhista e da Previdência logo em seguida. A nova oposição de colarinho branco e azul, desalojada do poder com Dilma, vendeu a quimera de que nada ia acontecer. O Brasil, principalmente a maioria pobre, tem assistido ao resultado.
Mais tarde, mesmo com a manipulação fraudulenta de redes e os ataques jurídicos, parlamentares e midiáticos contra Lula, a sociedade dita progressista (descontados os covardes de sempre, como os tucanos, Ciro Gomes e amigos no centrão) desconfiava da eleição do miliciano JMB.
Um milico de terceira categoria e acusado de terrorista de extrema-direita dentro do próprio Exército. Sua maior credencial: como parlamentar, JMB montou um esquema nacional de rapinagem junto com parentes. Deu no que deu.
Pelo andar da carruagem, a história arrisca um revival. Aliás, em certo sentido a trama já tem se repetido.
O país vem sendo destroçado diariamente. Petrobras e estatais esmigalhadas, revogação na prática da lei Áurea com mais uma mudança nas relações do trabalho e transformação do Planalto e cercanias em centros de corrupção descarada.
A pandemia só fez e faz dar cores mais fortes ao desmantelamento. À custa da vida mais de meio milhão de brasileiros. A CPI em curso provavelmente não dará em nada, mas já foi suficiente para mostrar que uma quadrilha de estelionatários, fardados ou não, usou a doença como “oportunidade” para engordar o próprio bolso.
Tudo indica que não estão dispostos a abrir mão do butim. Querem mais. Completar o serviço. Sufocar o que resta de democracia e manipular eleições. Para isto a turma escalou uma tropa de militares e generais infames decidida a exumar a ditadura e conferir aos restos mortais um certificado de democracia.
As declarações (e ações) recentes de personagens como os generais Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, além do próprio recruta JMB, não deixam dúvidas.
“Era só um regime forte”, “ditadura é questão de semântica”, “as Forças Armadas são o poder moderador”, “o Exército sou eu” e outros espasmos autoritários do gênero.
Augusto Heleno merece um destaque: pela sua fúria homicida foi expulso do Haiti quando comandava uma tropa de suposta pacificação. Deixou o local no Caribe aos frangalhos.
É a esta gente que o Brasil em dissolução está entregue. No cotidiano a situação é desesperadora, não apenas na saúde. Quando depurados com honestidade, os números da economia, por mais conferências para endinheirados ministradas pelo “ministro” Paulo Guedes, mostram que o país está parado.
Desnecessário falar do desemprego e da fome alastrantes. Viramos a nação dos empreendedores que não têm emprego (a não ser no Planalto e arredores). Na maquiagem repercutida na mídia oficial, até empregados domésticos se tornaram “empresários”.
Sem direito a carteira profissional, aposentadoria digna e garantias trabalhistas. Miseráveis disputam com animais restos de ossos para sobreviver. Quem não atenta para o tamanho do buraco deve se mudar para Genebra, virar parça de banqueiro ou ser amigo de Guedes e JMB, o assaltante executivo do Planalto.
Será que é difícil para os oposicionistas e os auto intitulados democratas, Lula e PT incluídos, enxergar o que está acontecendo? As rusgas entre o miliciano JMB, STF e chefetes parlamentares não são nada perto do que está passando o povo brasileiro. São apenas reflexo de um processo de demolição.
Isto só pode ser revertido com a ação do povo e daqueles em quem ele acredita. O que não se resolve com manifestos escritos para preencher blogs, acalmar as próprias consciências ou disputar eleições.
A continuar como está a situação caminha para o golpe. Este só não aconteceu ainda porque os candidatos a uma quartelada —JMB e sua gangue—são rústicos, ignorantes e sem autoridade mesmo nas casernas. Que o digam as pesquisas. Mas isso pode mudar da noite para o dia. Basta mais um aumento no soldo e turbinar a roubalheira do Tesouro.
Precisa desenhar?
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