Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
At� o papa percebe
A Igreja Cat�lica nunca foi propriamente uma entidade transformadora. Pelo contr�rio. Tem um curr�culo de alian�as com o nazismo, com ditaduras pelo mundo afora e de apoio a toda a sorte de obscurantismos —a Inquisi��o e Galileu, por exemplo, que o digam.
O Vaticano, de resto, sempre trabalhou como instrumento servil dos poderosos de ocasi�o. Imposs�vel esquecer as liga��es perigosas entre Pio 12 e Mussolini e o papel central de Jo�o Paulo 2� na derrubada do Muro de Berlim. Tarefa facilitada, neste �ltimo caso, pela trai��o e destrui��o dos ideais igualit�rios operadas pela burocracia stalinista.
� por tudo isso que ganha import�ncia o discurso do papa Francisco sobre os dilemas da �poca atual. As cr�ticas � exclus�o social e a refer�ncia ao capitalismo como "ditadura sutil" permitem, no m�nimo, uma dupla leitura.
A primeira atesta mais um sintoma da sangria de fi�is diante do crescimento exponencial das seitas evang�licas e do islamismo. O discurso cat�lico apost�lico romano h� muito tempo deixou de seduzir simpatizantes. N�o s� pela assimetria entre o fausto da elite do Vaticano e a pobreza espalhada pelo planeta. H� mais: os esc�ndalos de pedofilia e o desprezo absoluto por valores �ticos e morais que a Igreja diz defender v�m tendo um efeito devastador na autoridade do pessoal de batina.
Ao mesmo tempo, o sistema social ao qual o Vaticano rende homenagem secular exibe repetidos sinais de esgotamento. A perversidade de crises econ�micas seguidas, a voracidade do capital financeiro, o sacrif�cio imposto a povos inteiros em favor de rendimentos parasit�rios soterram a reputa��o de ideais lastreados na resigna��o � espera de uma eternidade pr�spera.
S�o mazelas renovadas a cada dia. O cerco da banca internacional � Gr�cia e o receitu�rio imperativo de austeridade econ�mica n�o deixam mentir; junto a isso, a alternativa militar contra migrantes v�timas da fome e da opress�o na �frica comp�em um cen�rio do retrocesso civilizat�rio em curso.
A c�pula da Igreja Cat�lica conhece o of�cio. Num per�odo como esse, nada melhor que algu�m com a biografia do papa Francisco e sua imagem despojada (embora motivo de pol�mica na Argentina). "Quando o capital se converte em �dolo, arru�na a sociedade, destr�i a fraternidade, povos enfrentam povos." Foi mais longe ainda em seu discurso na Bol�via: "A��es de concentra��o monopolista dos meios de comunica��o social, que pretendem impor pautas alienantes de consumo e uniformidade cultural, s�o uma forma de novo colonialismo, de colonialismo ideol�gico".
No Brasil de hoje, se dependesse da oposi��o, o pont�fice provavelmente estaria sujeito a um processo de impeachment ou coisa parecida. Isso se algu�m n�o pedisse a recontagem dos votos dos cardeais que o elegeram.
In�til esperar de Roma qualquer solu��o terrena. Religi�es n�o existem para tanto; quando muito, atuam como paliativos. O importante na fala do papa Francisco � o diagn�stico cortante. Nem precisa ser bom entendedor.
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