Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
Pessoa e o ser ou n�o ser do PT
Sobretudo na ret�rica, a nova safra de dela��es selecionadas aumentou a press�o sobre Dilma Rousseff. Paradoxalmente, serviu tamb�m para enfraquecer a oposi��o.
A hist�ria de Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, pertence ao g�nero do irrealismo fant�stico. A come�ar da exposi��o de motivos. Segundo o executivo, as negociatas entre governos e empresas perseguiam objetivos nobres. "Fazer a engrenagem andar", "impedir retalia��es contra quem n�o colaborasse", "abrir portas" e outras platitudes.
Em benef�cio da d�vida, suponha-se que personagem t�o impoluto tenha falado mesmo o que apareceu impresso e pense ter abafado. A� imaginamos que o sujeito realmente possui um cora��o de ouro com dinheiro alheio. Uma esp�cie de "plutodemocrata".
A saber: pagou ministros do TCU, deu mesada para o filho do presidente do mesmo tribunal, comprou o PT, comprou o PSDB, comprou o PSB, comprou o PR, comprou o PMDB e ainda deu R$ 20 milh�es para o ex-presidente Collor. S� faltou ter adquirido o Cristo Redentor.
A dela��o divulgada afirma que a elei��o de Dilma drenou R$ 7,5 milh�es dos cofres da UTC. Pelo menos aqui A�cio Neves ganhou da advers�ria. Sua campanha agasalhou R$ 8,7 milh�es do empreendedor preocupado com a marcha do capitalismo. Interessante: no total, suas doa��es declaradas aos tucanos foram maiores do que o dinheiro para o PT, inclusive em S�o Paulo.
H� duas hip�teses, complementares e n�o excludentes. Interessado na pr�pria sobreviv�ncia, Pessoa jogou a UTC no ventilador para ver como � que fica. Quanto mais alvos atingir, melhor. Deixa que o Moro faz o resto.
A outra possibilidade � a de que a bandalheira est� institucionalizada no pa�s. S�o rid�culas, para ser elegante, as tentativas da oposi��o de convencer que a dinheirama recebida por ela � limpa e a fatia da situa��o, coisa podre. Mas depois da excurs�o Cantinflas � Venezuela, nada mais surpreende vindo de A�cio e sua turma.
Na �ltima semana, Lula soltou o verbo. Lamentou que seu partido parecesse mais interessado em salvar a pele e segurar cargos do que em defender um projeto.
Esse � o ponto. Qual o projeto do PT hoje? Ser� poss�vel mobilizar a milit�ncia para defender cortes em educa��o, habita��o, sa�de, em direitos trabalhistas, nas aposentadorias? Lula pode ser –e �– um excelente orador. Mas sem a "mistura", como se diz na casa de gente de carne e osso, o arroz com feij�o perde o encanto.
O problema do PT n�o � a idade dos militantes –embora o afastamento da juventude seja sintom�tico. Vale a pena citar o professor Paul Singer: "O que acontece � luta de classes. Trabalhadores assalariados e patr�es capitalistas t�m interesses opostos." Singer tem 83 anos, mas preserva intacta a juventude de racioc�nio. Em outras palavras, falta um programa coerente ao partido. O que temos para hoje � uma ant�tese da prega��o original. Uma salada de projetos de longu�ssimo prazo condimentada com sacrif�cios de curt�ssimo prazo para a maioria.
Cabe ao PT mudar a receita se quiser enfrentar uma luta pol�tica cada vez mais agressiva. Bem entendido, isso n�o � garantia de nada ap�s tantas derrapadas. Mas ao menos manteria a legenda dentro do jogo com um discurso definido.
Baboseiras como governabilidade, superavit prim�rio e obsess�o inflacion�ria s�o t�o convincentes e intelig�veis quanto um alem�o de bolso cheio discursando para gregos em peti��o de mis�ria.
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