Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
Dilma, a hora � agora
T�o equivocado quanto subestimar o impacto das recentes manifesta��es � ceder � histeria relembrando golpe de 1964, suic�dio de Get�lio Vargas, impeachment de Collor etc.
Teve gente que foi mais longe: desastre como juiz, o advogado Joaquim Barbosa mostrou-se um fiasco tamb�m como historiador. Tra�ou paralelos com a Revolu��o Francesa, quando qualquer ginasiano associaria o per�odo ao da rea��o thermidoriana. Cair nestas armadilhas tem a mesma intelig�ncia de acreditar na "espontaneidade" das manifesta��es deste domingo (15).
Sem falar da Guerra Fria, a situa��o de 1964 era totalmente distinta. Perto do governo Goulart, o programa atual de Dilma Rousseff soa como �pera para o establishment. Jango defendia, ao menos em palavras, a reforma agr�ria, tinha aliados como as Ligas Camponesas de Francisco Juli�o, pregava aumento de sal�rios e endossava a estatiza��o de multinacionais. Coisas de deixar qualquer grande empres�rio, na cidade e no campo, apavorado ""ainda mais com a efervesc�ncia na �rea militar.
Hoje a elite est� mais perdida que cachorro em dia de mudan�a. "O governo petista � uma quadrilha de ladr�es. Abaixo a corrup��o". A�, quando se examinam nomes envolvidos, aparecem Camargo Corr�a, Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galv�o e gente que divide a mesa ao lado em caros restaurantes. Ou Pedro Barusco e Alberto Youssef, ladr�es confessos. (Curioso: at� agora n�o se encontrou uma conta verdadeiramente milion�ria assinada por figur�es do PT. At� agora.)
Corta pra mim, porque o assunto � mesmo de pol�cia. Vamos � lista do HSBC. Entre traficantes, criminosos e sonegadores contumazes, surgem sobrenomes da fina flor do capitalismo tropical. S�o culpados? Inocentes? A Justi�a que decida. A da Su��a, provavelmente, porque a brasileira adora esconder pap�is e trocar gavetas. "Bem, mas tem o pessoal do PSDB e PSB para nos salvar". Risos. Eduardo Campos, S�rgio Guerra, Anastasia, A�cioportos, trensal�o, Metr� paulista etc. dispensam coment�rios.
Os banqueiros, esses, ent�o, assistem a tudo de camarote. Instalaram um representante no Minist�rio da Fazenda que festeja o corte de direitos trabalhistas, vibra com a alta de juros e faz pouco das pol�ticas sociais. Ano ap�s ano, os lucros dessa turma engordam enquanto a ind�stria local definha. Por que diabos a banca iria querer trocar de presidente?
A� chegamos ao Parlamento. Os presidentes das duas casas aparecem na mira da Opera��o Lava Jato. Ambos fazem parte da linha sucess�ria. E os dois s�o da "base aliada". Est�o com Dilma, mas tamb�m contra ela –o sinal positivo ou negativo depende da proximidade do cadafalso. Escolha em quem confiar.
Em momento de rara sinceridade, a presidente afirmou no �ltimo dia 12: "Esgotamos todos os nossos recursos de combater a crise que come�ou em 2009 [...] Trouxemos para as contas p�blicas e o Or�amento da fiscal da Uni�o problemas que de outra forma recairiam sobre a sociedade, os trabalhadores."
Fez muito bem. Usou dinheiro social para salvar milh�es de fam�lias da fome, assegurar empregos e impedir que o Brasil virasse uma Gr�cia ou Europa em decomposi��o. E, veja s�, deixou os ricos ainda mais ricos!
O problema � daqui pra frente. Ou bem o governo adota uma linha obrigando os milion�rios a dividir o custo da crise que eles mesmos criaram e avan�a no projeto da Constituinte ou bem vai passar quatro anos num processo de sarneyza��o, como assinalou o fil�sofo Marcos Nobre em artigo recente.
Quanto a impeachment, Dilma fique tranquila. O pessoal de cima pode querer muita coisa, menos mexer num vespeiro em que � quase imposs�vel achar inocentes. Basta ver quem s�o os basti�es do pedido oficial. Um � Paulinho "Tequila" da For�a, do SD, que abriga em suas fileiras gente como S�rgio Arg�lo, queridinho de Alberto Youssef. O outro � o "democrata armado" Jair Bolsonaro, do PP –partido campe�o em acusados na Lava Jato.
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