Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
Podemos, mas queremos?
Os n�meros, como sempre, s�o conflitantes. Segundo a pol�cia, foram 100 mil pessoas. Os organizadores da manifesta��o contaram 300 mil. O jornal "El Pa�s", valendo-se de crit�rios pr�prios de medi��o, calculou em mais de 153 mil o n�mero de presentes ao ato do Podemos em Madri no s�bado (31). A capital espanhola tem cerca de 3,3 milh�es de habitantes.
A gigantesca manifesta��o contra as pol�ticas de austeridade na Europa foi vitaminada pela vit�ria estrondosa do partido Syriza na Gr�cia. Assim como este, o Podemos re�ne um pouco de tudo: ex-militantes de partidos tradicionais, manifestantes indignados, jovens desiludidos, desempregados e muita gente que podia nem estar a�, mas insiste em pensar no futuro.
Segundo a rep�rter Luisa Belchior Moskovics, desta Folha, os "manifestantes eram sobretudo adultos e idosos". Uma aposentada de 66 anos, Ascensi�n Fern�ndez, contou � jornalista: "Ainda temos nossa aposentadoria, mas isso n�o est� mais garantido a nossos filhos, e por isso viemos. N�o queremos mais ser empregados da Merkel". [Angela Merkel, chanceler alem� e s�mbolo da pol�tica de arrocho, para os outros, claro, que devasta a Europa.]
Parece longe, do outro lado do oceano. Falso. O fen�meno tem tudo a ver com o Brasil. Tanto o Syriza como o Podemos surgiram da insatisfa��o de povos cansados do jogo pol�tico tradicional, da coreografia repetitiva de elei��es para presidente de C�mara, da subservi�ncia de legendas autoproclamadas populares, mas que na pr�tica curvam-se aos status quo da plutocracia e da ciranda financeira.
Guardadas certas propor��es, o momento hist�rico e diferen�as sociais, foi mais ou menos um movimento parecido que criou o PT brasileiro. O PT, hoje no poder, nasceu do encontro de militantes de origens variadas, de cat�licos a ultraesquerdistas, passando por uma maioria revoltada com "o que est� a�".
Detalhe essencial: a origem n�o confere um selo de qualidade vital�cia ao rebento. Exemplos n�o faltam. Desde a trai��o dos velhos partidos social-democratas ao papel destruidor exercido pelo stalinismo quanto � esperan�a de um mundo solid�rio, mais justo e menos desigual.
Nada disso trava a hist�ria. De tempos em tempos, o cen�rio � sacudido pela a��o da esmagadora maioria insatisfeita com o poder do 1% sobre o restante. De uma ou de outra forma, � isso que est� por tr�s de eventos como a queda do Muro de Berlim, a Primavera �rabe e a resist�ncia dos povos europeus ao plano de terra arrasada proposto pela troika.
A quest�o � o futuro. Uma vez no poder, a express�o pol�tica destes movimentos esbarra em car�ncias doutrin�rias, indefini��o program�tica e rendi��o ao dinheiro f�cil e a benesses do poder. O PT, no Brasil, sofre este risco. A prolifera��o de movimentos sociais descolados do partido � impressionante. Grupos de sem-teto, articula��es culturais fora do eixo e at� sem eixo, m�dias alternativas –h� uma efervesc�ncia correndo por fora e que de repente explode como em junho de 2013.
Syriza, Podemos e outros tantos s�o exemplos de vida pulsante pelo mundo. A inc�gnita, mais uma vez, � como essa ebuli��o ser� orientada. Curvar-se ao manual da austeridade, ajuste fiscal e metas de superavit � o caminho mais f�cil para a desmoraliza��o. Veja-se o fiasco dos partidos de "esquerda" tradicional em todas as elei��es europeias. Lev Davidovitch Bronstein escreveu que a crise da humanidade � a crise da dire��o revolucion�ria. Diante dos fatos, imposs�vel n�o lhe dar raz�o.
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