Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
O bruxo est� solto
Transformado em porta-voz oficioso do governo Dilma, o ministro Joaquim Levy est� com tudo e est� prosa. Sua mais recente novidade � destruir o seguro-desemprego. Ok, depois surgem os desmentidos habituais, como manda o figurino. Mas o mal j� foi feito.
Diz-se nos corredores do poder que a presidente Dilma repousa no sil�ncio desde a posse para fazer com que o �nus do ataque aos direitos dos trabalhadores recaia sobre a troica brasileira –Levy, Barbosa e Tombini. Al�, Planalto, temos uma p�ssima not�cia. Conhecendo Dilma, o PT e o minist�rio saco de gatos montado pela presidente, mesmo o sujeito mais desavisado percebe que nenhuma das medidas anunciadas deixa de contar com o aval presidencial. Algumas como bal�es de ensaio, outras nem tanto.
A afonia pol�tica da presidente tem seu custo. Pode-se at� tentar entender o seu timing: a verdadeira elei��o no "presidencialismo de coaliz�o" vai ocorrer em 1� de fevereiro, com a escolha do presidente da C�mara. Ganhando Eduardo Cunha (do "aliado" PMDB!), a fatura sair� bem mais cara. Nada que o dinheiro p�blico n�o possa comprar, principalmente em se tratando de quem se trata. Mas a dor de cabe�a certamente ser� maior.
Problema: os c�lculos dos pol�ticos oficiais raramente coincidem com o cronograma do cidad�o. Estamos em janeiro, m�s de f�rias para estudantes e para muitos trabalhadores. Normalmente um per�odo de calmaria. Mesmo assim, movimentos como o passe livre conseguem mobilizar milhares de pessoas contra o aumento de tarifas. Greves se espalham, o espectro das demiss�es nas empresas envolvidas no esquema Lava Jato n�o para de crescer, e as consequ�ncias da falta d'�gua e de energia apavoram a popula��o de metr�poles inteiras.
Diante do quadro cuja gravidade salta aos olhos, nada se ouve de positivo do pessoal de Bras�lia. Ao contr�rio: as promessas s�o de um presente de dificuldades, para, quem sabe, um futuro melhor daqui a dois, tr�s anos. Haja paci�ncia.
Vale a pena? Na semana que passou, a ONG Oxfam divulgou um relat�rio mostrando que o ganho da fatia 1% mais rica da popula��o do planeta avan�a sem parar e deve ultrapassar 50% do total em 2016. Ou seja, 1% sozinho vai possuir mais da metade do que os 99% restantes. Boa parte disso � resultado de especula��o financeira e de heran�as e bens que passam de pai para filhos gra�as � sobrenomecracia.
N�o � preciso ser nenhum Piketty para concluir: reduzir tamanha desigualdade e espolia��o desenfreada s�o provid�ncias b�sicas. Menos no Brasil. Fala-se muito da carga tribut�ria "excessiva" no pa�s, mas pouco de quem paga a fatura. Quando a lente se aproxima, o assunto revela sua verdadeira dimens�o.
Estudo da professora Lena Lavinas, citado em artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo na revista "Carta Capital" n� 832 evidencia: os que ganham at� dois sal�rios m�nimos entregam ao governo 53,9% da renda, considerando-se todos os impostos.
J� os que recebem acima de 30 sal�rios m�nimos contribuem com apenas 29% de sua renda. Qual nosso bruxo das finan�as, esses �ltimos certamente ter�o �gua em abund�ncia nas piscinas, energia el�trica � farta e escapar�o das agruras despejadas sobre o cidad�o comum.
Eis o centro do problema. Sem atac�-lo, nenhum governo estar� � altura dos votos que recebeu. As elei��es na Gr�cia que o digam.
PERGUNTA SEM RESPOSTA
Por que Andrade Gutierrez e Odebrecht at� agora est�o a salvo das garras do "justiceiro" Moro –assim como os verdadeiros propriet�rios das empreiteiras acusadas de corrup��o?
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