Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
O mi(ni)st�rio de Dilma
Quem tem algum compromisso, ou pelo menos preocupa��o, com as quest�es sociais fica decepcionado com as escolhas para o novo gabinete. Ao lado de uma equipe econ�mica alinhada com a banca, a presidente Dilma fez quest�o de nomear gente cuja trajet�ria vai no sentido oposto daqueles que garantiram sua vit�ria.
Gilberto Kassab no Minist�rio das Cidades � uma bofetada, em todos os sentidos. Um dos pol�ticos mais oportunistas da hist�ria recente, Kassab est� irremediavelmente associado � m�fia do IPTU em S�o Paulo, � especula��o imobili�ria e ao desprezo pelos interesses dos cidad�os. N�o � s�: o filho de Jader Barbalho, novo ministro da Pesca, tem como �nica credencial a derrota para governador do Estado. E por a� vai: Eliseu Padilha volta � cena, um pastor � empossado para tocar o Esporte, uma agronegocista na Agricultura. E segue o enterro.
Minist�rio t�cnico, bem entendido, seria uma quimera: isso n�o existe. Qualquer t�cnico est� sempre a servi�o de uma pol�tica. Ainda assim, mesmo considerando o tal "presidencialismo de coaliz�o", haveria menus mais diger�veis do que o card�pio servido pela presidente reeleita. O simbolismo na pol�tica vale muito, �s vezes tudo. Ao indicar nomes identificados com interesses que ela combateu durante a campanha, Dilma promove um curto-circuito talvez imposs�vel de consertar antes de a fuma�a aparecer.
Pode-se argumentar que grande parte dos ministros, na verdade, n�o manda nada. Diz-se tamb�m que o "n�cleo duro" permanece nas m�os do PT. Falso. Mesmo que alguns dos nomeados jamais sejam recebidos em audi�ncia no Planalto, eles fazem parte da face vis�vel do governo. Desprezar isto n�o � fazer pol�tica; � cavar um fosso ainda maior em rela��o aos movimentos que acreditaram no discurso de campanha.
A receita que a presidente oferece ao p�blico � uma mistura de crise e rame-rame. De que adianta contentar as in�meras fatias em que o Congresso se divide? Viu-se isto com clareza nas manifesta��es de junho de 2013. O poder formal e a voz das ruas nem sempre caminham no mesmo sentido. Mas a segunda geralmente costuma determinar como o primeiro deve se comportar.
Ignorar a hist�ria � um risco capital. N�o que o povo adore passeatas, manifesta��es di�rias, greves, faltar ao trabalho ou atrapalhar o tr�nsito. N�o! Mas ningu�m consegue aguentar calado a amea�a de deteriora��o das condi��es de vida, a degrada��o de servi�os p�blicos, a perda de poder aquisitivo e a piora no bem-estar da fam�lia. A estes, a maioria, "governabilidade" s� interessa quando sin�nimo da redu��o da desigualdade social.
� isto que mant�m o mesmo partido no poder at� agora. Este compromisso precisa ser renovado nas palavras e, acima de tudo, nos fatos. Mas o que se tem ouvido s�o not�cias de aumento de tarifas, desocupa��es selvagens nas cidades, corte de gastos para pagar juros dos financistas e concess�es conservadoras a granel. Nas p�ginas ao lado, por�m, l�-se tamb�m que o n�mero de bilion�rios no pa�s cresceu; a compra de im�veis no exterior saltou; a taxa de lucro das empresas vai muito bem, obrigado; a corrup��o grassa; e aumenta o n�mero de investidores sedentos para aplicar dinheiro no Brasil. Mist�rio: quais ser�o os novos programas sociais? Dilma, mostra a sua cara.
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