Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
A farsa do impeachment
"N�s vamos perder, mas vamos sangrar estes caras at� de madrugada". A frase de A�cio Neves, reproduzida em reportagem da sempre atenta Daniela Lima, desta Folha, resume melhor que tudo o programa da oposi��o ao governo Dilma. N�o que seja exatamente original, em se tratando do autor. Ele mesmo, durante a campanha eleitoral, soltou outra p�rola de n�vel parecido aos que aceitavam trocar de candidato como se troca de camisa: "suguem mais um pouquinho e depois venham para n�s".
Por tr�s do palavreado da alcateia a favor do impeachment da presidente reeleita, existe uma verdade irrefut�vel. As investiga��es, mesmo atabalhoadas, da Opera��o Lava Jato, desnudam um esquema de corrup��o que n�o vem de hoje, nem de ontem. E o principal: revelam o modus faciendi de conviv�ncia entre a elite empresarial e o Estado brasileiro. Pode parecer paradoxal, mas esta � a chave que torna os pedidos de impedimento uma farsa absoluta.
O Brasil teve um epis�dio de impeachment, o de Fernando Collor. Pausa para breve volta ao passado. Quem tinha acesso aos humores do tubaronato percebia o andar da carruagem. "Dez por cento tudo bem, mas o PC Farias est� pedindo trinta, quarenta. Assim n�o d�. " A lam�ria era repetida por dez entre dez rica�os que constru�ram fortuna � sombra de neg�cios escusos.
Mas n�o era o suficiente: al�m de ir com muita sede ao pote e romper o c�digo do pessoal de cima, a turma de Collor era um fracasso completo em termos populares. Confiscou poupan�a, perdeu da infla��o e foi incapaz de promover qualquer progresso. Conseguiu brigar com todo mundo, tanto com os endinheirados que bancaram sua elei��o como com os desavisados que viram o "ca�ador de maraj�s" ser o maior de todos os maraj�s. Sua queda era quest�o de tempo.
O momento agora � distinto. O que est� exposto � execra��o p�blica n�o � a a��o de uma camarilha isolada. � o envolvimento do "cr�me de la cr�me" do empresariado local –e internacional– com pr�ticas de achaque ao Estado. Nem o tucano mais inflamado, no �ntimo, acredita que o esquema come�ou com administra��es petistas. O inqu�rito sobre a bandalheira no sistema de transporte de S�o Paulo fala por si s�. A opera��o Castelo de Areia, interrompida por chicanas jur�dicas, tamb�m ilustra a promiscuidade entre os senhores do dinheiro e os neg�cios de Estado –seja quem for o gerente de plant�o.
S�o estas as rela��es que v�m sendo escrutinadas. N�o � toa pesquisa Datafolha deste domingo traz resultados aparentemente contradit�rios: se muita gente acha que Dilma tem culpa no cart�rio, outros tantos aprovam a sua gest�o. Mais: apontam o governo dela como o que mais combate a corrup��o, com larga vantagem sobre os antecessores. Sintom�tico, n�o?
Algu�m poderia achar que o resultado indica que o brasileiro se acostumou com o "rouba mas faz". Nada disso. A maioria trabalhadora, honesta, que conta os trocados para sustentar a fam�lia, n�o tem nenhum tipo de coniv�ncia com roubalheiras. Mas, da mesma forma, n�o imagina gente como A�cio Neves, Jos� Serra (que declarou em alto e bom som considerar cartel uma coisa normal) ou Fernando Henrique (que conquistou a reelei��o na base do dinheiro vivo) no papel de guardi�es da honestidade.
Disse um compositor: "Chove l� fora, e aqui t� tanto frio. Me d� vontade de saber. Aonde est� voc�?". No s�bado, durante mais um protesto de gatos pingados em S�o Paulo a favor da interven��o militar e impeachment, ouviu-se lamento semelhante da boca do mesmo personagem: "S� tem inimigo aqui. Cad� o A�cio, o Caiado? Se eu passo aqui e vejo esse pessoal, acho que � tudo a mesma coisa. Estou pagando de ot�rio". � Lob�o, a vida n�o � f�cil.
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