Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
Governo novo, ideias velhas
Nem no seu nascimento o PT se pretendia um partido revolucion�rio, na acep��o cl�ssica do termo. Nem sequer reformista, nos moldes da social democracia do s�culo passado. No m�ximo poderia ser caracterizado como um partido reformador.
Espa�o existia, como prova a hist�ria: num pa�s com desigualdades t�o acentuadas como o Brasil, uma legenda reivindicando ser porta-voz dos trabalhadores e tendo em seu programa a luta, mesmo gen�rica, contra abismos sociais, conseguiu a proeza de emplacar quatro mandatos seguidos na dire��o do Planalto. Mas a f�rmula n�o � eterna.
Imposs�vel escapar. A pol�tica de agradar a Deus e ao Diabo encontra seus limites no sistema capitalista –embora no Brasil nem tarefas democr�ticas b�sicas, como a reforma agr�ria, ainda tenham sido cumpridas.
Mesmo com todas estas condicionantes, o triunvirato econ�mico que se d� como fechado para o pr�ximo governo extrapola os limites da modera��o. Na fase final da campanha, Dilma Rousseff abra�ou o slogan de governo novo, ideias novas. Nada mais velho e cheirando a mofo do que os nomes aparentemente indicados para o n�cleo duro da economia.
N�o por acaso Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini s�o comemorados pelo chamado mercado –aquele ente supostamente imaterial que afogou o planeta numa das maiores crises da hist�ria contempor�nea.
Levy tem uma hist�ria vinculada ao "caixa": sua obsess�o confessa � fazer o azul superar o vermelho, seja em que sentido for. Sua vis�o dispensa maiores preocupa��es com os custos sociais das f�rmulas matematicamente "elegantes", capazes de levar a banca, grande capital e um setor da academia ao �xtase e ao mesmo tempo disseminar o desespero na maioria que possui pouco ou quase nada.
Barbosa e Tombini t�m pouco a apresentar aos milh�es que votaram na presidenta. S�o figuras mi�das, ideais para compor um time suscet�vel � press�o do mais forte. Mold�veis ao gosto do fregu�s.
Como brinde, anuncia-se a nomea��o de K�tia Abreu para a Agricultura. Ainda n�o se sabe direito se � apenas um bal�o de ensaio ou um fato consumado. Confirmada a segunda hip�tese, a coisa assume ares de provoca��o para uma parcela destacada dos que reconduziram Dilma ao Planalto.
Esta � a quest�o de fundo, ali�s. Nos seus primeiros sinais, a administra��o vindoura parece ignorar as condi��es de sua vit�ria. Na elei��o mais disputada dos �ltimos anos, o PT teve que recorrer �s ra�zes profundas do partido, mantidas sob sedativos por anos de adapta��o de fatias da legenda a benesses do poder. O apelo foi respondido com um triunfo inquestion�vel sobre a ofensiva conservadora.
Era de se esperar dos vencedores medidas no mesmo sentido. Todos percebem que a economia anda aos trancos e barrancos, fruto de uma crise mundial que n�o poupa ningu�m e tamb�m da timidez do governo em aprofundar um caminho de ruptura com modelos vigentes. Some-se a isto o pessoal que aposta na profecia que se autorrealiza, entre os quais um setor importante do empresariado. A turma do "n�o investimos porque o pa�s n�o vai crescer, e n�o crescemos porque deixamos de investir".
Longe de qualquer observador equilibrado esperar rupturas bruscas, mas sim de enxergar um horizonte que mantenha e aprofunde as conquistas sociais. Salvo pela exist�ncia de uma bem guardada carta na manga, imposs�vel de se vislumbrar at� agora, o novo governo vem andando na contram�o do que prometeu. Um jogo mais do que perigoso.
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