Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
De bagre a tubar�o: a nova Marina
Marina Silva construiu sua carreira associada a um discurso ambientalista, de luta contra transg�nicos, cr�tica ao desmatamento, defesa dos pobres e intransig�ncia de "princ�pios" -embora nunca se soubesse direito quais eram exatamente estes. A seu favor, contou ainda com uma hist�ria de vida repleta de sofrimento e supera��es. Se esta trajet�ria deixou sequelas em sua sa�de, ao mesmo tempo esculpiu uma imagem bem ao gosto de marqueteiros.
Esse capital, que sempre impulsionou a candidata e angariou a simpatia de milh�es, agora est� sendo jogado no lixo. A nova pol�tica, como os fatos t�m demonstrado, � o r�tulo que batiza n�o uma mudan�a de valores, mas a transforma��o da pr�pria Marina. Um caso pensado de autodesconstru��o.
As propostas da personagem repaginada s�o, no m�nimo, desalentadoras. No campo da economia, repete sem nenhuma originalidade o estribilho do trip� estabilidade cambial, controle da infla��o e equil�brio fiscal. Acrescentou a independ�ncia do Banco Central, uma cantilena que soa como m�sica entre o pessoal da banca.
As restri��es a doadores eleitorais "impuros" tamb�m s�o coisas do passado. Agora, vale tudo, desde que jorre dinheiro na campanha. O combate aos transg�nicos encontra-se devidamente engavetado. Quando se trata de costumes, nem se fale. Deu origem at� a um fato in�dito: uma errata de �ltima hora num programa pronto h� meses.
Na esfera da pol�tica, uma embroma��o atr�s da outra. "Democracia transversal", "adensamento do programa" e p�rolas do g�nero por enquanto s� produziram uma coaliz�o capenga, um avi�o-fantasma e a busca fren�tica por aliados de qualquer natureza. Nada mais velho e conhecido.
Junto a isso, surge mais um embuste. Vamos governar com os "melhores". Que diabo � isso? Francis Fukuyama, historiador americano, teve seus 15 minutos de fama quando decretou o fim da hist�ria. O marco seria a queda do Muro de Berlim. Os acontecimentos de l� para c� trataram de desmenti-lo redondamente. Ou seja, a diferen�a entre classes sociais, a desigualdade na distribui��o da riqueza e o abismo entre ricos e pobres est�o a�, vivinhos da silva.
Nesta fase em que passou de bagre a tubar�o, Marina tenta nos convencer de que desapareceram interesses em conflito. Chegou ao c�mulo de colocar no mesmo patamar Chico Mendes, o dono da Natura e o pessoal do Ita�, um dos l�deres em demiss�es no setor financeiro. S� faltou incluir fazendeiros que armaram com �xito o assassinato do l�der sindical.
Ocorre que o melhor para um banqueiro certamente n�o ser� o melhor para um endividado, assim como o certo para um evang�lico pode ser errado para um cat�lico ou ateu. A democracia aut�ntica, at� onde se sabe, prev� um jogo pol�tico capaz de fazer valer a vontade da maioria -sem nunca impedir a express�o e os direitos das minorias. A vis�o messi�nica, t�o ao gosto de Marina, caminha no sentido contr�rio. Geralmente tem como ep�logo a minoria dos "melhores" sufocando a maioria mais humilde.
Retomando algo j� escrito outras vezes. O que o brasileiro quer saber � muito simples: o que os candidatos t�m a oferecer para ampliar conquistas j� obtidas. Haver� mais empregos ou uma onda de demiss�es? A aposentadoria vai mudar? O pre�o do p�ozinho subir�? E o sal�rio m�nimo? Vem a� um tarifa�o? A gasolina ir� aumentar? Os juros cobrados pelos banqueiros continuar�o nas alturas? As grandes fortunas ser�o taxadas? Quais medidas concretas ser�o tomadas para resolver quest�es como essas?
Como hoje � dia de debate presidencial, eis a� uma boa oportunidade para Marina e seus rivais esclarecerem o eleitor.
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