Na Folha, foi editor de "Opini�o", da Primeira P�gina, editor-adjunto de "Mundo", secret�rio-assistente de Reda��o e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras fun��es.
Quem garante um 2018 diferente?
Para come�o de conversa, deixe de lado tentativas de associa��o do resultado da Copa com campanha eleitoral. Seria fazer pouco da intelig�ncia do brasileiro. Assim como as comemora��es pelo tricampeonato em 1970 n�o representaram ades�o � ditadura militar, a decep��o com o desempenho p�fio de 2014 tampouco implica condena��o ao governo atual. At� porque, no que lhe cabia, este n�o foi mal.
Para fins de m�dia e demais envolvido$, a vit�ria sempre tem muitos pais; a derrota invariavelmente � �rf�, embora a realidade diga o contr�rio. Pode-se continuar indefinidamente no exerc�cio do autoengano e procurar as justificativas mais bizarras. Gente chegou a dizer que o chocolate levado pelo Brasil contra a Alemanha estava escrito nas estrelas, bastava comparar a quantidade de Nobel de cada pa�s.
Sou um pouco mais modesto nas explica��es. O futebol � um neg�cio bilion�rio. H� muito deixou de ser um embate entre "habilidades" individuais, em que improvisa��o, ginga e origem faziam a diferen�a. Claro que isto continua a ter seu papel, mas a ladainha de que � tudo esporte, o importante � competir, vencer ou perder faz parte da vida e coisas do g�nero s� joga �gua no moinho dos que encontraram nessa modalidade uma mina de ouro.
Para encurtar: quanto j� n�o se leu sobre m�fias que combinam resultados, ju�zes que vendem a alma, atletas e at� times (quando n�o sele��es) inteiros que vinculam seu desempenho em campo ao saldo banc�rio proporcionado por gangues de apostadores e escroques?
De tempos em tempos, surge uma onda purificadora para punir os que exageraram na cobi�a, como aconteceu na It�lia, com rebaixamentos, pris�es e perda de t�tulos. S�o apenas exce��es a confirmar, e at� agora a perpetuar, a regra.
A Fifa, ela mesma, � uma quadrilha a c�u aberto. Uma verdadeira multinacional do crime, com direito a filiais pelo mundo afora. Em tudo h� algu�m ganhando uma bufunfa por fora: venda de ingressos, direito de sediar uma Copa, transmiss�es de TV, contrata��o de jogadores, com�rcio de chaveiros, monop�lio de marcas. Nada escapa.
Esp�rito esportivo? Veja um exemplo: o uruguaio que tascou uma mordida no advers�rio, mesmo reincidente, h� pouco protagonizou uma transa��o milion�ria. Talvez seja a dentadura mais cara da hist�ria. Segundo um jornal espanhol, o Barcelona gastar� cerca de R$ 226 milh�es (!) com o passe de Luis Su�rez, hoje no Liverpool, mesmo sem ele poder entrar em campo at� outubro. Precisa falar mais?
Nada a ver com saudosismo dos tempos da bola de capot�o. Ser um neg�cio n�o necessariamente demoniza o esporte. Mas � preciso encar�-lo como tal. Dispens�vel dizer que h� muito tempo o Brasil deixou de ter o melhor futebol; resta admitir. Com dinheiro, investimento e tecnologia atuais, um coreano � capaz de montar uma escola de samba digna de disputar o caneco no Samb�dromo. Zico foi produzido em laborat�rio. Ronaldo, idem. Messi tamb�m.
Foi o que os europeus –e os americanos est�o no mesmo caminho– fizeram com o futebol. Propostas de coibir venda de jogadores brasileiros ou impor cotas de idade em negocia��es n�o passam de conversa de bar, e ap�s muitos goles. S� um desmiolado imagina criar normas para impedir um atleta brasileiro de ganhar mais. Como assim, se esta � a regra do jogo no sentido amplo, seja qual for a atividade? Al�m do que futebol n�o � recurso natural ou nacional, como petr�leo, floresta amaz�nica ou malha hidrogr�fica.
Alternativas existem, mesmo nos limites de um sistema movido, acima de tudo, pelo lucro. A primeira delas, e talvez a mais importante, � atacar a corrup��o abolindo a promiscuidade entre dinheiro p�blico e esportes privados. Procura-se gente disposta a dar o pontap� inicial. A quem interessar: nesse assunto, faltam raz�es para qualquer otimismo.
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