� jornalista de ci�ncia com gradua��o, mestrado e doutorado pela USP. � autor do blog "Darwin e Deus" e do livro "Os 11 Maiores Mist�rios do Universo". Escreve aos domingos, a cada 2 semanas.
Por um ano menos enviesado
Espero que voc� comece 2016 duvidando mais de si mesmo, desconfiando intensamente da sua sabedoria e das suas capacidades, dileto leitor.
N�o, voc� n�o leu errado. Sei que a praxe para anos que est�o come�ando � usar frases como "Acredite em voc�, acredite nos seus sonhos!" (aten��o para a exclama��o empolgada), mas � dif�cil evitar a impress�o de que 2015 foi um ano t�o desgastante e desanimador porque, em parte, o pessoal andou acreditando demais em si mesmo.
E seguir esse tipo de conselho motivacional frequentemente � uma p�ssima ideia porque n�o somos criaturas das mais confi�veis.
N�o digo isso no sentido "pecado original" da coisa (ou seja, a suposta tend�ncia natural humana � maldade). N�o, estou falando de algo muito mais b�sico e insidioso: a gente tem uma tend�ncia a interpretar a realidade com um conjunto de atalhos mentais que podem at� ser �teis no curto prazo e em situa��es simples, mas viram estorvos dos grandes num mundo t�o complicado quanto o de hoje.
Esses �culos de grau mal calibrados com os quais muitas vezes enxergamos o mundo s�o conhecidos tecnicamente como vieses cognitivos, e j� renderam at� Nobel de Economia para os sujeitos que os estudam h� d�cadas, como o psic�logo israelense Daniel Kahneman.
O mais �bvio dos vieses cognitivos tem justamente a ver com excesso de confian�a. Se perguntarmos �s pessoas que dirigem carros rotineiramente se elas se consideram motoristas acima da m�dia a maioria vai cravar "sim, estou acima da m�dia".
Acontece que n�o tem como a maioria das pessoas ser acima da m�dia em qualquer coisa, simplesmente porque, por defini��o matem�tica, 50% dos membros de um grupo sempre estar�o abaixo da m�dia. Da mesma maneira, a tend�ncia natural de quase todo mundo � atribuir vit�rias aos seus pr�prios m�ritos e derrotas a circunst�ncias que fugiam de seu pr�prio controle -um tipo de vi�s cognitivo que n�o condiz com o que realmente ocorre.
Outra distor��o extremamente popular dos nossos processos mentais � o vi�s de confirma��o, que a gente poderia carinhosamente apelidar de "vi�s de rede social". Redes sociais, com efeito, t�m a desagrad�vel tend�ncia de dar destaque �s postagens das pessoas com quem a gente mais interage -normalmente, s�o tamb�m as pessoas com quem a gente concorda.
O resultado � que a gente s� l� informa��es e opini�es que confirmam nosso ponto de vista, tornando o que poderia ser, no melhor dos mundos, uma troca livre e aberta de perspectivas num exerc�cio positivamente masturbat�rio.
E, � claro, temos uma dificuldade abissal de lidar com grandes n�meros e probabilidades. Se tr�s ou quatro casos de determinada doen�a de repente afetam conhecidos nossos ao mesmo tempo, por exemplo, � quase imposs�vel evitar a impress�o de aquela doen�a est� devastando a popula��o mundial -a n�o ser que levemos em conta que, num grupo pequeno, esse tipo de varia��o pode ocorrer de vez em quando por uma s�rie de fatores, sem que necessariamente isso valha para a popula��o como um todo.
Pense em quantas discuss�es f�teis e polariza��es rid�culas -sobre pol�tica, sexo, religi�o e futebol- poderiam ter sido evitadas em 2015 se a gente levasse mais em conta vieses como os citados acima. Que tal n�o fazer o mesmo neste ano?
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