Jornalista, � colunista da Folha e autor de um blog na RedeTV!. Escreveu, entre outros livros, 'Contra o Consenso' e 'O Pa�s dos Petralhas' e 'M�ximas de um Pa�s M�nimo'.
Escreve �s sextas-feiras.
Petistas t�m de ler Marx
Com todos os equ�vocos que abriga, o "18 Brum�rio de Lu�s Bonaparte", de Karl Marx, � um dos grandes livros de pol�tica. � leitura obrigat�ria para esquerdistas e conservadores. Nos anos recentes, estes t�m se dedicado mais � teoria do que aqueles, o que � natural: os oprimidos costumam se preparar intelectualmente para a luta com mais afinco do que os opressores, que tendem a substituir a forma��o pelo proselitismo arrogante.
Quando eu era trotskista e quase crian�a, havia uma disputa para ver quem sabia quase de cor "O Programa de Transi��o". Hoje em dia, j� percebi, as pessoas n�o decoram nem a batatinha-quando-nasce da "revolu��o permanente", apesar da cren�a fervorosa. Ocorre que a convic��o que nasce da ignor�ncia s� produz fundamentalismo burro. Adiante.
Por que o "18 Brum�rio"? L� est� uma das boas frases sobre Lu�s Bonaparte, o sobrinho que seria o tio redivivo como farsa. O tirano da oportunidade, segundo Marx, vestindo a m�scara napole�nica, "se torna v�tima de sua pr�pria concep��o de mundo" e se transforma no "buf�o s�rio que n�o mais toma a hist�ria universal por uma com�dia, e sim a sua pr�pria com�dia pela hist�ria universal". A s�ntese, concorde-se ou n�o com ela, � genial no sintagma, no arranjo de palavras. Acho fascinante esta imagem: pessoas que se tornam "v�timas de sua pr�pria concep��o do mundo".
Tenho lido o que escrevem esquerdistas ilustrados sobre a derrocada do petismo. � evidente que n�o perco meu tempo com blogs sujos, com pistoleiros da internet, com gente incapaz de pensar com a coluna ereta –ou, nos termos celebrizados pelo documento da Secom, ignoro a "muni��o" que � "disparada" pelos "soldados de fora". N�o! Se Andr� Singer escreve nesta Folha, no entanto, presto aten��o ao que diz. N�o lamento pelos outros. A Singer, dedico duas furtivas l�grimas.
Poucos, como ele, s�o t�o v�timas de sua pr�pria concep��o de mundo. Singer avalia que Lula � a causa geradora de um movimento que, potencialmente –e isto digo eu–, pode destruir o pr�prio PT. Um esquerdista jamais acredita que possa existir algo de novo sob o sol, exceto a ant�tese liderada pelas for�as da rea��o ou a dor necess�ria provocada pelas vanguardas disruptivas –nesse segundo caso, ainda que a coisa toda possa ser desagrad�vel no come�o, utopistas como Singer sugerem que a gente goza no fim... Nem que seja no fim da hist�ria.
Tentei achar nos seus textos onde est�o os sujeitos que fazem hist�ria fora das hostes da esquerda. N�o h�. Ou os homens que disputam as narrativas est�o engajados num movimento que traz em si o germe da mudan�a necess�ria ou est�o articulando as for�as da rea��o, o que levaria o mundo a andar pra tr�s.
� impressionante que mesmo os esquerdistas que leram mais de tr�s livros ignorem que os valores do homem m�dio –que, no fim das contas, asseguram a estabilidade disso que entendemos como civiliza��o– tamb�m podem ser afirmativos, n�o apenas reativos ou derivados da mobiliza��o esquerdista. Bakunin, numa cr�tica pela esquerda, apontava "a falta de simpatia" de Marx pela ra�a humana. A cr�tica era pertinente. O furunculoso nunca se interessou pelo homem que h�, aquele que realmente faz hist�ria, mas sempre pelo homem a haver, que existe como projeto.
O petismo perdeu o bonde. Tamb�m perdeu a rua, como ficar� claro, de novo!, no dia 12 de abril. O petismo j� morreu. Tornou-se v�tima de sua pr�pria concep��o de mundo.
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