"A primavera brasileira está em movimento", vislumbra o pastor Marcos Borges, o Coty, representante no Brasil de um movimento internacional que defende a influência cristã em todas as esferas da sociedade e de poder.

Ele compara a série de bloqueios em estradas do país após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas à onda de manifestações que sacudiu o mundo árabe em 2011.

Em uma sequência de posts em seu perfil no Instagram desde o anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no domingo (30), o pastor lembra dos 18 dias em que a população ocupou as ruas do Cairo, no Egito, para derrubar um governo tirano.

À frente da Jocum (Jovens com uma Missão), organização missionária ligada à senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), Coty faz um paralelo com os caminhoneiros bolsonaristas que começaram a impedir o trânsito em rodovias federais contestando o resultado das eleições presidenciais.

"Uma onda de pessoas do bem conscientes da política abutre e que não está disposta a perder a sua liberdade e nem entregar os filhos à devassidão", descreve o pastor sobre os manifestantes pró-Bolsonaro.

No palco da Conferência Global 22, em Brasília, o pastor defendeu um Brasil governador pela Igreja e por valores cristãos com o presidente reeleito.

O fato de Bolsonaro não ter ainda admitido publicamente a derrota nem cumprimentado o adversário é visto como sinal para a militância ir à luta.

"O silêncio do PR Bolsonaro está fazendo os gigantes tremerem e o inferno se revoltar, já que não podem acusar ele de golpe, pois é o povo que está se levantando em massa pedindo a intervenção militar. Sabemos que a hora é agora, e pode ser a última oportunidade que teremos", escreveu Coty na manhã desta terça-feira (1^o).

Mensagem que coincide com as notícias de que após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e as polícias militares dos estados começaram a atuar na desobstrução de rodovias bloqueadas por protestos de cunho golpistas.

Coty manifesta publicamente seu apoio aos bloqueios para os seus 105 mil seguidores, repostando mensagens sobre o "fim da tirania judicial" e "o STF descondenou? o povo vai deseleger".

O tom golpista e antidemocrático é explícito em diversas postagens . "Na minha humilde opinião valeu a máxima de quem decide a eleição não é quem vota, é quem conta. Tudo muito abertamente tendencioso e obscuro. Recuso-me a acreditar nesse resultado".

As teorias da conspiração servem para insuflar revolta popular também no Twitter, com hasthags como #povonarua e #foralulaladrao #fraudenasurnas #resistênciacivil, ao lado de mensagens que alertam para o fato de a população está armada.

"No Brasil já existem mais civis CAC's do que membros na ativa das Forças Armadas. Ou seja, há muito mais civis armados do que militares oficiais. Um conflito não será bom para ninguém, mas eu duvido muito que dessa vez o povo brasileiro recuará", postou o comentarista político Thomas, em sua conta no Twitter, seguida por Bolsonaro e citada pelo pastor Coty.

O Tribunal Superior Eleitoral tem enviado uma série de ordens judiciais às plataformas determinando a remoção de grupos de WhatsApp e Telegram com convocação para paralisações nas estradas e pedido de uso das Forças Armadas para um golpe militar.

Procurado pela Folha, o pastor Coty não respondeu ao pedido de entrevista.