A medida em que parece menos desconfortável no cargo —a expressão de espanto em seu rosto nos primeiros dias de governo agora não é mais tão evidente— o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fica cada vez mais parecido com sua antecessora Dilma Rousseff.
Na verdade, até pior. Se Dilma era uma gestora de opiniões equivocadas, que jogou o Brasil no buraco por acreditar que concessão desenfreada de subsídios e congelamento do preço da energia resolveriam o problema do país , ela pelo menos não carregava os preconceitos de Bolsonaro.
A decisão de tirar do ar o vídeo de uma campanha de marketing do Banco do Brasil, revelada pelo jornal O Globo, não é apenas uma ingerência indevida nos assuntos de uma empresa de capital misto (estatal com ações negociadas em bolsa). É de um preconceito atroz.
O que tem no vídeo? Mulheres e homens negros, homossexuais, transexuais, jovens com aparência descolada —minorias que são desprezadas pelo mandatário do país. E que agora querem ser “escondidas” por ele.
Em termos econômicos, não foi uma intervenção tão catastrófica quanto a da Petrobras, quando, com apenas um telefonema, o presidente que se diz liberal interferiu na política de preços da estatal e a levou a perder bilhões de reais de valor de mercado.
Mas tampouco tem qualquer racionalidade de negócio. O anúncio estava em linha com a política do Banco do Brasil de atrair um público jovem. Fazia, portanto, todo sentido. E também demonstra uma disposição do presidente de interferir nas áreas mais banais.
Enfim, acho que cabe a pergunta: será que Bolsonaro não tem mais o que fazer? Tem. E muito.
Por exemplo, convencer o Congresso a aprovar reforma da Previdência, para tirar o país desse marasmo, e tomar medidas concretas para reduzir o desemprego que teima em não baixar. Mas, isso, parece que não o preocupa tanto assim. Afinal ele não consegue parar de provocar polêmicas desnecessárias e de atirar no próprio pé.
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