Os tiros que atingiram os ônibus da caravana do ex-presidente Lula já vinham sendo “disparados” faz tempo nas redes sociais e na internet. Só que deixaram de ser virtuais e se tornaram reais –e, obviamente, isso faz toda a diferença.
Já faz meses que vídeos, áudios, posts, tuítes de movimentos como o MBL e o MST –só para citar um exemplo de cada lado do espectro político– pregam que o país está em “guerra” contra a “esquerda corrupta” ou a “direita fascista”.
E, num contexto de “guerra”, as pessoas acabam achando que é normal ou até permitido atirar contra um ônibus cheio de gente. Vai ver acreditam que estão prestando um serviço à nação ao invés de cometendo um crime.
Os ataques no Sul do Brasil mostram que, infelizmente, está ocorrendo um fenômeno para o qual os cientistas políticos vinham alertando: a crucificação da política e dos partidos transformou o país numa bagunça que ameaça a nossa democracia.
É claro que os políticos brasileiros também não ajudam. O envolvimento de Lula com as empreiteiras, o áudio de Aécio Neves pedindo dinheiro a um empresário, as suspeitas que pairam sobre Temer –tudo isso colabora para a ojeriza das pessoas à política.
A questão é que grupos de interesse vêm se aproveitando do salutar desejo da população brasileira de acabar com a corrupção para disseminar notícias falsas e fomentar a polarização da sociedade. Dizem que estão a favor de uma causa, quando, na verdade, disseminam ódio para ganhar cliques, apoio e votos.
“A questão é que política não se constrói com ódio”, diz o cientista político Fernando Abrucio. Para ele, o mais assustador não é ver o deputado Jair Bolsonaro dizendo barbaridades, mas políticos experientes embarcando no mesmo barco por medo de perder votos para os extremistas.
A declaração de Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB e que disputa uma fatia do eleitorado com Bolsonaro, é um exemplo do problema. Ele voltou atrás, mas sua primeira reação aos tiros contra a caravana de Lula foi dizer que “os petistas colhem o que plantaram”.
Do outro lado, a presidente do PT, Gleise Hoffmann, também não ajuda quando chama seus correligionários para a “guerra” e diz que “sem Lula, não haverá eleição”. Está na hora dos políticos manterem a calma, porque a polarização já foi longe demais e ainda faltam seis meses para as eleições.
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