O Brasil entrou em campo contra Camarões com sua torcida festejando o bom caminho anunciado com as vitórias de Japão sobre a Espanha e Coreia do Sul sobre Portugal. Saiu sob alerta da realidade.
A primeira derrota em fase inicial de Copas do Mundo desde 1998 e o fim da invencibilidade de 17 partidas da seleção de Tite indicam que não tem jogo fácil nesta Copa. Tanto que nenhuma seleção terminou com 100% dos pontos.
O Brasil tem defeitos.
Ao mesmo tempo em que Tite monta a escalação mais ofensiva do Brasil em Copas desde 1982 e homenageia indiretamente Jô Soares e seu personagem Zé da Galera, ao escalar pontas, o Brasil por vezes parece escravo das extremidades do campo.
O telão do estádio Lusail apresentou, no intervalo do jogo, as ações no último terço, depois da intermediária do campo de ataque. Projeto do Departamento de Desenvolvimento do Futebol Mundial, da Fifa. Leia-se, ideia do ex-técnico do Arsenal Arsène Wenger.
O gráfico apresentava dez jogadas pela ponta esquerda, sete pela ponta direita, três do ponta que entrava na diagonal pela direita, e só cinco ações pelo centro.
Esse será um dos problemas contra a Coreia do Sul. Sem Neymar, o time depende demais de Vinicius Júnior, principalmente porque Raphinha caiu demais em termos técnicos, depois de um primeiro tempo razoável contra a Sérvia.
Um amigo de Neymar diz que ele está bem melhor. Se fosse contra o Uruguai, talvez forçasse a barra para jogar, mas a classificação da Coreia do Sul quebraria essa necessidade. Não pode ser assim.
A Coreia do Sul tem de ser respeitada como se fosse Portugal ou Uruguai. É o time de Son, craque do Tottenham, ganhou da Alemanha na Copa da Rússia, quatro anos atrás, eliminou uruguaios e ganeses no Qatar.
Se é a segunda colocada de sua chave, é melhor do que o Uruguai, que não se classificou.
Façamos, então, as duas perguntas-chave: Neymar está bem para jogar? A seleção tem futebol para ganhar da Coreia do Sul sem ele?
Só Rodrigo Lasmar pode responder à primeira questão e, provavelmente, não o fará. Pelo que jogou contra Camarões, o Brasil pode ganhar da Coreia do Sul. Mas tem problemas a resolver. Um deles é fazer gols. De preferência assim, no plural.
A melhor chance da seleção foi numa jogada de Raphinha, pela direita, aos 39 do segundo tempo, cruzamento que Bruno Guimarães finalizou para fora e viu sair em escanteio.
O Brasil chutou três vezes mais do que os camaroneses, teve 59% de posse de bola, o que serve apenas para reforçar um número bizarro da Copa do Mundo: só 35% dos times que têm mais tempo com a bola vencem.
Até sabendo que 22% dos jogos terminam empatados é impressionante perceber como muitos times não conseguem descobrir o que fazer com a bola.
O Brasil sabe, a Espanha também, a Argentina idem. Mesmo assim, os espanhóis perderam do Japão, os argentinos da Arábia Saudita, e a seleção de Tite caiu contra Camarões.
Não adianta pensar que a vida será melhor com os titulares, nem com Neymar nem contra rivais teoricamente mais frágeis.
O único caminho é jogar bem.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.