Guardiola definiu o Atlético de Madrid, seu adversário nas quartas de final da Champions League, em uma frase que também explica o futebol defensivo: "Eles são quem são e impedem que você seja quem é".
Bingo!
Diego Simeone é, hoje em dia, o antiguardiola, como dez anos atrás era José Mourinho, o professor de Abel Ferreira. Simeone não quer seu time todo dia do mesmo jeito, só bola para o mato que o jogo é de campeonato.
Ou não teria eliminado o Barcelona nas quartas de final de 2014, impedindo os catalães de chegar às semifinais pela sétima vez consecutiva.
Mas há partidas em que é preciso admitir a dificuldade e montar táticas defensivas.
Dois anos antes de expulsar o Barça da Champions, o Atlético ganhou a Liga Europa, disputando uma semifinal brilhante, ofensiva, contra o Valencia. Simeone não é retranca todo dia.
O livro "Cabeça Fria, Coração Quente", de Abel Ferreira, tem um trecho em que o autor explica o papel do técnico: "Temos de dar a melhor rota do ataque". Irônico, Abel disse depois de vencer o Santos por 1 a 0 que sua equipe é "um bocadinho retranqueira".
Guardiola e Jürgen Klopp nunca são. Mas Klopp precisou ter 42% de posse de bola na semifinal e na final da Champions League de 2013, contra Real Madrid e Bayern. Klopp dirigia um Borussia Dortmund mais fraco do que seu Liverpool atual.
Torcedores torcem por times, e comentaristas não devem torcer por suas ideias. Jornalista não tem amigo, exceto o leitor, ouvinte ou telespectador. Também não tem inimigo.
Jogos diferentes têm estratégias diferentes, técnicos e jogadores merecem elogios ou críticas de acordo com suas atuações.
Tem dia sim e dia não.
É raríssimo ouvir ou fazer críticas a Guardiola, porque é o mais criativo treinador da atualidade. O jornalista Martí Perarnau, autor dos dois livros que têm o técnico catalão como rosto, disse à Folha que Pep é o mais extremista em reinterpretar sistemas.
Foi ele quem começou a atacar adversários jogando cinco homens na última linha ofensiva, contra quatro zagueiros rivais, como no antigo sistema WM, das décadas de 1920 a 1950.
Abel Ferreira faz o mesmo no Palmeiras e é chamado de retranqueiro. Alexander Medina também o fez pelo Internacional, na derrota por 3 a 0 para o Grêmio. Corre o risco de demissão. Não por sua ideia. Por sua derrota.
Pode apostar que neste momento, depois de sofrer para fazer seu Atlético de Madrid vencer o Rayo Vallecano por mísero 1 a 0, no sábado (19), Diego Simeone planeja como se defender do Manchester City. Atacar o campeão inglês é como ir ao cartório e preencher uma requisição para ser derrotado.
Uma das questões próprias ao futebol moderno é a capacidade de criar estratégias para atacar e para defender. Tratar a bola como ouro, quando a possuir, estudar os pontos fracos do rival e conhecer seus pontos fortes.
Raphael Veiga conta que a jogada do primeiro gol do Palmeiras, contra o Flamengo, na final da Libertadores, foi treinada exaustivamente. Abel confirma a informação em seu livro.
Nossas críticas fazem parecer que futebol moderno é atacar ou defender. Não é assim. Seja com Guardiola, Tite, Simeone ou Abel Ferreira, trata-se de atacar e defender.
AS FINAIS
O Palmeiras chega como favorito às finais, mas o único campeão com a melhor campanha da fase inicial foi o São Paulo do ano passado. Então, será necessário ter atenção em todos os jogos. Abel Ferreira usa seu prestígio para falar sobre calendário e sobrecarga nos atletas. É justo.
SEM OS GRANDES
O 22º Campeonato Paulista do século é também o 17º sem os quatro grandes nas semifinais. Nem chegamos às semifinais, e o Santos já está eliminado. Para o Brasileiro, Fabián Bustos quer cinco reforços, e o Santos precisa dar estabilidade aos treinadores e seus trabalhos.
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