A primeira convocação de Tite no ano da Copa do Mundo expõe o nó que o técnico da seleção precisa desatar, entre jogadores que julga indispensáveis e outros que o dia a dia grita que precisam jogar: Vinicius Junior e Paquetá.
Tite foi rápido ao perceber o crescimento de Paquetá e fez dele o seu grande curinga. Não foi tão veloz com Vinicius Junior, mas é justo dizer que a crítica brasileira também demorou para acreditar que o atacante do Real Madrid alcançaria tão rapidamente o protagonismo que alcançou.
O erro de Tite foi não tê-lo convocado para as partidas de novembro, contra Colômbia e Argentina. A correção se deu em tempo pelo corte de Firmino. Todo o mundo se lembra de que Vinicius não estava na convocação inicial, em novembro. Pouca gente fala que ele foi titular contra a Argentina.
Mais do que isso, o nome de Vinicius Junior esteve em todas as listas de 2021.
O contraponto está em Coutinho e Daniel Alves. Procura-se contradição no técnico da seleção. Mais fácil enxergar convicção. Ele só não pode morrer abraçado com os dois, mas tenta até a última gota contar com ambos, capazes de fazer a transição experiência-juventude.
Do ponto de vista teórico, seria ótimo ter Daniel na lateral direita, porque nenhum lateral jogou o que ele mostrou na Copa América de 2019. Acontece que isso já faz três anos!
A dúvida, se Daniel será capaz de repetir seu mais alto nível, poderia provocar a renúncia ao teste. Tite não renuncia. Aposta.
Se não der certo, Danilo e Emerson vão ao Qatar.
Coutinho é diferente, porque não joga em alto nível desde 2018. Foi campeão da Champions League de 2020 pelo Bayern, disputando todas as partidas, cinco como titular, seis saindo do banco. Ops... Olha a contradição do analista... Como Coutinho não joga em alto nível desde 2018 se disputou todas as partidas de uma Champions League que venceu!?
Se Tite estiver certo e Coutinho for à Copa, não precisará ser titular. Poderá ajudar, como fez no Bayern.
Tite tem mais convicções do que contradições.
Todo treinador tem as suas. Em abril de 2002, o Barcelona avisava a CBF de que Rivaldo não tinha condição física de jogar a Copa do Mundo. Ronaldo não entrava em campo pela Internazionale. Felipão bateu no peito, tirou Romário e incluiu os dois lesionados. Ganhou a Copa.
Não dá para prever o futuro olhando para o passado.
Na entrevista coletiva que concedeu depois da convocação, Tite incluiu o Brasil na prateleira mais alta dos candidatos ao título. Só faltava dizer que vai à Copa como azarão.
O dia do susto foi 7 de outubro de 2021, quando a seleção suou sangue para ganhar da Venezuela, de virada, em Caracas, num dia em que França e Bélgica deram aula de futebol ofensivo. Mas a análise de Tite vai exatamente na direção de uma época em que dez seleções podem ganhar ou perder umas das outras.
A Itália foi campeã da Europa em julho e perdeu a vaga direta para a Copa do Mundo para a Suíça. Portugal foi derrotado em casa pela Sérvia. O Brasil é uma das dez seleções capazes de trazer a taça no final do ano. Assim como França, Inglaterra, Espanha, Bélgica, Argentina e Alemanha. Itália e Portugal entrarão nesse grupo não tão seleto se avançarem da repescagem.
A Holanda pode até ganhar, mas a aposta é na bagunça, com três técnicos nos últimos quatro anos.
Fazer as coisas certas não garante sucesso. Mas a seleção tem caminho, até ao afastar Renan Lodi por não ter tomado a vacina.
Se Tite não fizer tudo certo até a Copa, pelo menos faz coisas que gostaríamos de ver em Brasília.
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