De todos os treinadores portugueses de ponta, Jorge Jesus é o mais brasileiro. O menos teórico, menos acadêmico. A distinção dos treinadores de Portugal, ganhadores de 74 troféus em 30 países no século 21, vem da capacidade de unir o conhecimento dos bancos da faculdade ao campo.
Dos que fazem sucesso ao redor do mundo, o mais completo é José Mourinho. De perto, Paulo Sousa. Craque em seus tempos de meio-campista do Benfica e Sporting, campeão da Champions League pela Juventus e pelo Borussia Dortmund, Sousa une o conhecimento de quem foi treinado pelo sueco Sven Goran Eriksson, pelo inglês Bobby Robson, pelo italiano Marcello Lippi e pelo alemão Ottmar Hitzfeld.
Une liderança ao conhecimento tático e à prática de quem foi craque. Tem a paciência necessária para lidar com torcedores e imprensa e, dito assim, deveria ser campeão em todos os lugares por onde passou.
Não foi.
Vencedor na Suíça e em Israel, teve no Basel seu maior sucesso, ao eliminar o Liverpool na fase de grupos da Champions League, em 2014. No ano seguinte, assumiu a Fiorentina. Chegou à liderança da Série A ao golear a Internazionale, em Milão, por 4 a 1. Primeiro colocado por cinco rodadas, terminou em quinto lugar.
Sua Fiorentina fazia saída de jogo com três homens, jogava no 3-4-2-1, sistema igual ao usado por Jorge Jesus no atual Benfica (veja ilustrações).
Paulo Sousa é aqui citado porque pode ser o novo treinador do Flamengo. São cinco portugueses avaliados. Paulo Fonseca prefere esperar a Inglaterra, Jorge Jesus provavelmente permanecerá no Benfica, Rui Vitória não foi bem no Spartak, Carvalhal tem multa de 2,5 milhões de euros (R$ 16 milhões) para sair do Braga e Paulo Sousa pode se desvencilhar facilmente da seleção da Polônia.
Seria um privilégio ter Paulo Sousa no Brasil. Acrescentaria conhecimento, e isso, possivelmente, faria dele mais uma vítima. Se o maior déficit deste país está na educação, é justamente a teoria o que não nos conquista. Não é casual o encanto com Jorge Jesus, o mais empírico dos grandes técnicos de Portugal.
Desde a saída do Flamengo, o treinador campeão da Libertadores de 2019 também mudou. Gostava de escalar suas equipes com linha de quatro defensores. Passou a três zagueiros e a defender no 5-4-1. O Benfica se assemelha ao Palmeiras de Abel Ferreira, do ponto de vista tático.
Jorge Jesus é ofensivo. Não mais do que Paulo Sousa, que fazia a Fiorentina jogar agrupada, abria o campo com seus alas e chegava ao ataque com trocas de passes.
Os treinadores do exterior têm contribuído com ideias e sistemas de jogo. Mas nós, imprensa e torcida, parecemos pouco dispostos a ouvir. A lista dos que chegaram e partiram tem 14 nomes: Jorge Jesus, Jorge Sampaoli, Eduardo Coudet, Miguel Angel Ramírez, Diego Aguirre, Antonio Oliveira, Jesualdo Ferreira, Ariel Holan, Hernán Crespo, Diego Dabove, Rafael Dudamel, Domènec Torrent, Ramón Díaz e Sá Pinto.
Rebaixado pelo Sport, Gustavo Florentin seguirá na Série B. Em três temporadas, 18 estrangeiros passaram por times da Série A de 2022. Restam Vojvoda, Gustavo Morínigo e Abel Ferreira.
Os portugueses têm a teoria e descobrem o futebol do Brasil na prática. Não adianta nos trazerem espelhos, como os descobridores. Não queremos olhar para nossos próprios defeitos.
Futuro do Cruzeiro
Ronaldo não mudou a história do Valladolid. Nem para melhor, nem para pior. Na Espanha, às vezes é acusado de ausente. Este não poderá ser seu pecado no Cruzeiro. Empresário investir no Brasil é excelente notícia. Se o Cruzeiro será um sucesso é ainda duvidoso.
Risco para o Corinthians
O Benfica e Jorge Jesus tentam a contratação de João Victor, do Corinthians. De tudo o que deu certo no Parque São Jorge, o zagueiro é dos melhores. O Corinthians não deve correr o risco de contratar veteranos e vender revelações. O ideal é manter seu melhor zagueiro.
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